29.1.19

Ruína - Autofagia - EP (2018)



Voltando com mais uma resenha podre sobre algum disco infame, o blog define que volta frenético com as postagens pra incomodar, estragar as crias da família tradicional e tentar ao máximo propagar a cantiga ligeira do subterrâneo feita neste país. Pra começar bem o rebuliço sonoro, apresento-lhes uma bela banda da nova safra da cena de Recife, estou falando da Ruína
Com o seu primeiro trampo lançado em dezembro do ano passado, um epêzinho que leva a graça de Autofagia, conta com seis músicas que exploram esse submundo do extremo sonoro, explorando o crust/sludge com forte influência do hardcore/punk. Ouvindo o som por algum streaming disponibilizado pela banda, absorvi uma sonoridade crua e densa, pesada pelas passagens e referência ao metal e direta quando fonte bebida passa a ser o hardcore. Tinha algum tempo que não ouvia essa pegada de som, e ouvindo repetidas vezes esse registro confesso que o peso do grupo afetou minha audição. Descansei o ouvidor por alguns dias e voltei a buzinar o play lá no bandcamp, pra poder concluir de forma mais sincera as minhas impressões. E o que eu digo é que se você chegar desavisado leva uma surra sem ter apanhado, por conta da agressividade passada em cada acorde, cada sapecada na bateria e em cada vociferada (que parece que tá com um arame farpado garranchado nas cordas vocais) do vocalista, destacando as faixas Autofagia, Fria Navalha e Verdade
Taí, pra começar o ano com novidade boa, o som da Ruína é uma ótima dica pra quem se liga no estilo e também pra quem tá atrás de coisas novas e de qualidade. 


Ouça aqui:

15.1.19

Gin, Racionais e Satanás

Começo de ano, energias revitalizadas pra suportar esses tempos sombrios que permeiam os nossos meios e resolvi voltar mais ativo com o blog, que nesse 2019 completa dez anos de pura tosquice. Sexta passada rolou um evento-chamego em uma das novas casas da cidade, a Monkey. Devidamente programado pra bater o ponto no baile que levava o singelo título de Possessão Diabólica, logo pela manha cheguei  em minha jega (aka sala de trabalho) e desde as primeiras horas da sextinha o roteiro completo da algazarra era planejada de forma frenética nos grupos do zap em que participo. Como já tinha um tempo que a minha pessoa não dava o ar da graça nos eventos mais undergrounds, a expectativa em rever pessoas, sentir o clima do ambiente e ver de perto as bandas escaladas pro rolê era grande. Bom, terminado meu expediente, o combinado era fazer um esquenta ouvindo um som e bebendo bons drinks de gin. Compra água tônica, compra limão, compra gelo, prepara a bibida, bebe, volta a preparar, bebe novamente. E assim foi o ritual antes de chegar no local da comunhão.
Peguei um Uber com mais dois meliantes e partimos atrás da caminho do canhoto. Chegando na porta percebi que o estabelecimento de diversão roquista era bem ajeitada e aparentemente agradável aos meus lindos olhos. Depois de uma breve identificação na portaria, bêbado e de corpo aberto, fui cumprimentar o Bacural, que comandava as cantigas no esquema vitrolinha de um lado e um celular do outro. Entre um Seek & Destroy do Metallica e um Isto É Olho Seco do próprio Olho Seco, peguei uma ampola de 600 ml com um preço bem justo e sentei numa das mesas espalhadas pelo espaço externo do pub. Conversa aqui, cumprimenta ali, bebe acolá e começo a observar o lindo pessoal que aos poucos lotava o espaço. Entro na salinha pra sacar pela primeira vez o som da Sömbriö, e gostei muito do que vi. Metalpunk com umas pegadas de crust e bateria de cavalo manco,.Paulim com o seu visu que lembrava os cabras do Destruction em fase inicial, sapecava a mão na guitarra e gargarejava bonito, enquanto o Rubens empenava bumbo, caixa e pratos. Fernando, um dos baixistas que a banda possui, lapidava as cordas grossas como se estivesse esculpindo lenha no machado. Bela apresentação que abria os trabalhos da noite. Fui pra fora pegar um ar e tomar bibida, enquanto alguns olhares tortos direcionavam pra minha vestimenta (camiseta do Descendents). Poderia ter ido com alguma camisola do Hellhammer ou do Exodus, mas não tenho e o que restou foi essa, pois a peita do Twisted Sister não estava devidamente limpa. O que tinha de gente com cinto de bala no local era de impressionar, a munição que segurava as calças coladas dava pra tomar Marzagão inteira de assalto. No som, o deejay intercalava um Ratos de Porão e Sarcófago, quando chegou em meus ouvidos a informação de que teria um remix de algum discurso do Bacural em mp3. Fiquei esperando, não rolou e logo fui prestigiar a segunda banda da noite, a Dead Meat. Com nova formação em power trio, Gustavo & Cia dichavava o seu thrash metal da forma mais agressiva e crua possível. Sabe ali o Sepultura do Bestial Devastation? Então, a pegada foi essa e percebi que o público gostava do que via. Regulagem no talo, som pesado e eu me sentindo um headbanger tropical no ambientinho fechado.
Já do lado de fora, tocando um misto de Judas Priest e Iron Maiden, fui ao banheiro descarregar o líquido armazenado, e todas as vezes era um combo de 3 a 4 pessoas saindo ao mesmo tempo do toalete, não entendi bem, mas imagino que era o aperto de fazer as necessidades (pensei). Já completamente louco, mas ainda consciente, notava alguns rôustos novos e que tive a curiosidade de conhecer. Com a fome querendo manifestar, descolei umas onion rings e chamei um amigo pra dividir a iguaria comigo. De bucho cheio, carreguei a cartucheira de bibida e a cada sentada era uma munição a menos. Já com os olhinhos de peixe morto, fui sacar o som dos amigos de Brasília da Malicious Intent. A desenvoltura de Pícaro nos vocais era digna de colocar muitos frontmans no bolso. O death/grind da banda é brabo e bem orquestrado pelo quarteto, que no começo estava com a regulagem das cordas finas e grossas um tanto baixo e que foi ajustado depois de um toque que uma mina deu pra rapaziada. Não conhecia o som e interessei depois da apresentação pra saber mais sobre a banda que leva o nome de uma musiquinha do Napalm Death. Quando começou Troops of Doom do Sepultura lá fora, a metaleira toda fazia um grande coral emocionado. Aproveitei também pra passar os olhos nos merchans disponíveis e tinha uma variedade legal de materiais, vestimentas e demais artigos subversivos. Com alguns acordes começando ao fundo, fui ligeiro pra ver de perto a apresentação da clássica Desastre. Com uma nova formação que eu não me lembro de ter visto em ação, a banda passou por sons antigos e músicas do recente EP Vasto Deserto. Apresentação clássica, como sempre, que me fez sentir numa espécie de atmosfera punk oitentista. Vez ou outra meu pobre corpo era ferido por algum bracelete com pregos, isso me fez ficar mais ligado em possíveis rodas dentro daquela salinha. Do lado de fora, o clima estava maravilhoso ambientado por clássicos do metal nacional, que iam de Harppia até Taurus, deixando a nostalgia aflorar nos corações daquela gama de gente de preto. Bom, passados alguns bons minutos ali num bolinho de roda, era anunciada a abertura dos portais do inferno, pois a Flageladör (primeira vez em Goiânia) estava prestes a destilar o seu thrash metal com cheiro de enxofre. Adentrei na sala e minha pressão deu uma leve desregulada por conta da forte presença de satã naquele espaço. Logo de cara notei as vestimentas dos integrantes, e me chamou a atenção os brincos de cruz vermelha invertida que o baixista usava, além dos braceletes, resgatando a estética do estilo lá nos perdidos dos anos oitenta. O vocalista Exekutor, que se apresenta com um capuz em clara referência ao Sodom disparou clássico atrás de clássico da banda naquela noite/madrugada, com o púbico cantando, pogando e delirando. Fiquei mais no canto curtindo o peso da banda e em determinada hora em que eles tiraram os acordes de Assalto da Motoserra, me senti na atmosfera do SP METAL, tudo feito de maneira intensa e real. Diversão, ritual e reverência à esses profanos do som acelerado, foi o que eu absorvi ao final da bela apresentação, fechando a noite das bandas e que prosseguiu com a discotecagem, que nessa altura passeava entre a new wave, Billy Idol, The Clash, Ramones, e fechando em grand finale o esquema todo, o DJ atendeu a pedidos e terminou o baile com Jorge da Capadócia/Capítulo 4, Versículo 3 dos Racionais. Nem preciso dizer que fiquei emocionado, e que voltei pra casa completamente satisfeito com tudo que vi.
O Saldo final do rolê foi: bela noite em prol do metal profano, evento muito bem organizado, ambiente bom, muitos elogios para a Monkey, desde o espaço, passando pelo preço das bibidas. Espero que dure por muito tempo e que mais eventos dessa natureza volte a acontecer na cidade. Em tempos tenebrosos, andar ao contrário e resistir à sua maneira torna-se mais necessário pra que possamos construir os nossos submundos paralelos em meio à tanta repressão e ignorância. Estamos vivos!

3.1.19

Transtorno Nuclear - Hazardous Aggression (2018)


Depois de purificar o corpo com muito álcool pra receber esse novo ano complicado que já está aí, retorno mais podre e agressivo com o blog, que nesse ano completa 10 anos de muita tosquice. Pra abrir bem esse esquema, apresento-lhes o som da Transtorno Nuclear, bandinha de thrash maloca lá de Brasília que conheci num post do Camilo (Damn Youth). Ouvi, gostei e resolvi escrever alguma doidice por aqui.
Ouvindo Hazardous Aggression com calma e com o ouvidor devidamente limpo com cotonetes de marca barata, a sonoridade bateu tanto que me senti em alguma atmosfera podre dos anos 80, rodeado de latões de lixo, ratos, headbangers e entulhos. Esses joviais desajustados, crias de Violator e afins, levam à serio o esquema do thrash/crossover oldschool, sapecando o chicote no asfalto em seis cantigas muito bem orquestradas. Ouvindo o play, parece que as entidades do cinto de bala adentram em seu corpo, e mesmo que você esteja em seu quarto deitado,  o tremelique de pernas e dorso é inevitável. Como sou da cidade do césio, o nome da banda e a temática das letras me chamaram a atenção também, assim como a arte da capa que leva a assinatura do Mike Knight. 
Enfim, pra abrir os trabalhos à mando de Tranca Rua e Exu, começo com essa maravilha de banda e registro, que eu tenho certeza que você vai pirar logo de primeira, então fume aquela pedra na lata pra colocar mais pressão e paranóia na hora de ouvir essa paulada do thrash da nova geração do esgoto subterrâneo sonoro. Ouça e espalhe!

Ouça aqui: