17.7.18

Velho de Câncer - O Fim (2018)




                               


Depois de uma pequena colônia de férias num retiro espiritual pra desintoxicar o meu lindo corpinho, retorno para este espaço pra fazer uma saudação em forma de texto tosco para uma das bandas mais incríveis que já ouvi nesse território subterrâneo nacional. A Velho de Câncer, que depois virou Velho, e que agora voltou a ser conhecida pela graça do primeiro nome, retornou as suas atividades, para a plena alegria de muitas gentes, inclusive a minha.

Coincidência ou não, quando conheci a banda, estava passando por um momento transitório em minha vida, e naquele momento as letras, melodias e a força sentimental angustiante do Zé Ulisses fez um sentido enorme pra mim. Pulando pra esse 2018 meio louco, passo por uma situação parecida, de readaptação da rotina e dos objetivos de um rumo sem certezas. E com uma grata surpresa, semana passada caiu de bandeja em meu colo o novo registro da banda. Bom, tratei logo de baixar nas plataformas de streaming e ouvir de cabo-a-rabo, deixando no modo repeat, enquanto eu fazia os ajustes quase infinitos dos mapas dos municípios de meu Estado, em meu famigerado trabalho.

A intensidade soou como antes e fez minha memória rebuscar os momentos da época em que ouvia quase que diariamente o disquinho da banda. Indo pra faculdade, saindo do estágio, na casa dos meus amigos no atheneu, dentro do carro indo pra algum rolê no Martim ou no Capim, e por fim, no último volume  trancafiado em meu quarto. Não tinha blog nessa época, não tinha muitos compromissos, muito menos cobranças de uma vida padrão. Os amores eram outros, mais vagabundos e mais livres. Uma época realmente muito proveitosa e que me preparou muito pra poder chegar bem até aqui. Nostalgia é isso, aflora com algo bem marcante.

Voltando nesse novo disco, uma demo com nove músicas que de tão boa passa rápido e que deixa aquele suspiro gratificante na alma (bom, foi assim comigo). Não falo aqui de ser a melhor gravação ou o melhor timbre, falo das sensações intensas passadas através de letras e melodias que falam das angústias e da falta de encaixe num mundo cada vez mais cruel com os sensíveis. Ouvindo cada faixa desse disco pensei em meus amigos que estão ao meu lado, daqueles que estão perdidos por alguma razão, pensei em minha família, dos seus problemas diários, pensei em meus amores e desamores que surgem a cada dia, pensei nas pessoas legais que encontrei e que me conectei de alguma maneira nesses últimos meses. Sou muito emotivo e talvez essa seja a fase de minha vida em que ando colocando todas as minhas vontades e impressões pra fora, sem hesitar em me entregar as situações, me fodendo e me divertindo com isso, e a demo "O Fim" chegou na melhor hora de um quebra cabeça que aos poucos vai terminando de se encaixar. 

Se em 2008 quando meu irmão me apresentou a banda o impacto foi devastador, dez anos depois a pancada na moral foi a mesma. Não vou destacar faixas, deixo pra vocês definirem isso de maneira bastante pessoal, o que eu vou fazer é agradecer a trinca Zé Ulisses, Jonas e Lucas por definirem em pouco mais de trinta minutos os parafusos espanados que representam o norte de vidas que estão no tabuleiro desse sistema que judia cada vez mais. Isso aqui é uma sobrevida pra quem anda cansado e  vê pouca identificação ao redor, que vale muito colocar todos os demônios pra fora como um ato de revolução interna. 

Do ônibus lotado à tia que dorme na calçada nesse frio diurno de 15 graus em Goiânia, o cotidiano é cruel e temos que buscar sentido em outras situações pra não surtar nessa frequência em que estamos. Aqui fica o meu muito obrigado ao Velho de Câncer, ao punk, as amizades verdadeiras e pra essa porra toda que ainda faz um sentido do caralho em minha vida. Valeu, é isso.