23.9.15

Gulag - Música de Prisioneiros - EP (2015)


Se existe uma banda que eu tenho um gosto maior neste esgoto conhecido como underground, tal conjunto é conhecido pela graça de Gulag. O pessoal é de Brasília e a proximidade com a cena ajuda muito nesse sentimento. Conheci a banda numa apresentação no quase finado Capim Pub, desde então passei a ficar de butuca acerca de novidades sonoras. Vale lembrar que rasurei uns tempos atrás a demo lançada no ano de 2012 e que volto pra apresentar o furioso EP "Música de Prisioneiros", um disquêto que chega a filêpa nas costa ôca de desavisadx com 6 cantigas hardcoreanas, com boas pitadas de garage punk e que vai deixar você completamente alucinadx. Não sei que diacho deu em mim, mas só fui ter conhecimento desse registro neste mês, mas ainda bem que a conspiração da minha falta de compromisso com as coisas me fez chegar até essa maravilha. Mas aí, recapitulando e voltando a verbalizar sobre o atual lançamento, o esquema é urgente, descompassadamente dançante e com uma energia incrível. Letras magistrais podem ser conferidas de cabo-a-rabo e logo rola aquela identificação com as frustrações e questionamentos vividos nesse cotidiano e tão bem expressados nas músicas. As melhores ou as que ganharam um melhor agrado de meus ouvidos foram "Céu Sem Sol", "Seu Asilo", "Música de Prisioneiros #2" e "Sob o Signo dos Idiotas". Reforçando mais uma vez, as músicas possuem ótimas composições letrais que falam dos reais idiotas que permeiam este nosso ambiente, do egocentrismo pra nada e da prisão invisível que arduamente tentamos nos livrar diariamente. A capa da bolachita é outro ótimo destaque que merece sem bem apreciada. Pra finalizar, pegue as boas referências do hardcore ali do começo dos anos 80, junte com as melhores sujeiras do garage punk, aterrize no calor sem umidade do cerrado e terá um dos pontos altos dentro desse nosso subterrâneo sonoro, disco magistral-banda sensacional e se você ainda não ouviu ou viu, quem perde és tu.



Página da banda: Gulag

Ouça e descarregue o EP "Música de Prisioneiros" aqui:

14.9.15

Vida Torta - EP (2015)




Muita coisa lançada dentro deste underground não anda me surpreendendo de forma positiva, salvando algumas exceções como esta que mostro neste espaço. A paulada da vez chama-se Vida Torta, banda de cantiga veloz, sentimento amargo aflorado e que representa o esgoto sonoro de Canoas/RS. Formada por Kamila Lin (vocal), Rodner Ruivo (guitarra), Daniel Hogrefe (guitarra), Wender Zanon (baixo) e Gêison Anão (bateria), o esquema mal chega pra bagunçar o subterrâneo sonoro e já está no fim, triste mas o legado foi deixado, e nas linha abaixo relato de forma sincera as minhas sensações ao ouvir este maravilhoso Extended Disc.

O esquema ganhou o meu gosto logo com a primeira música soltada (Na Contramão), pelo vocal feminino que me remeteu à bandas como Skate Pirata e Arma Laranja, pela maravilhosa somatória de hardcore / melodia / skate punk e pelas letras que falam muito sobre mim e sobre você que lê estas linhas. Vida torta fora do padrão, decepção pro exemplo bem sucedido, um estopim pra fugir dessa bolha padrão da sociedade e (sobre)viver mais leve nesse peso do mundo-caos. O disco abre com a poderosa "Olhos Furiosos" e segue a intensidade em "Na Contramão", acelerando ainda mais na cantiga "Hogrefe In The Jall" e chegando na maravilhosa "Natureza Morta" em que meu coração sapecou nos batimentos, "Vidas" é o expurgo feroz contra a babaquice humana que insiste em não compreender/aceitar/conviver com as diferenças, seguida da surf-punk "Surfando no Esgoto" e terminando a farra com a dançante "Voa Canoas".

Se você chegou até aqui, é sinal de que a sua ouvidoria está de butuca pra apreciar o som deste quinteto, talento sulista pra sacudir o subterrâneo sonoro que a gente tanto gosta. Ah..., vale lembrar que a incrível arte de capa leva a assinatura de Kamila Lin,  aquele se rolou um interesse, entre em contato, mande uma mensagem, troque aquela ideia, consuma material independente e faça a engrenagem continuar a girar ao contrário. Aqui está uma das boas coisas que conheci este ano!

Página da banda: Vida Torta


Veja aqui o clipe da música "Na Contramão"

Ouça e baixe o EP da Vida Torta aqui:


4.9.15

Entrevista com a banda Dead Meat

Rapaz, já tinha um bom tempinho que eu não aparecia aqui com entrevista, mas como eu teimo com o lapso de minha memória, ora ou outra eu lembro e reativo essa parte no sítio que particularmente gosto bastante. Dessa vez chego pra apresentar banda nova e boa de Goiânia, falo da Dead Meat, conjunto de cantiga agressiva que reacendeu a chama headbanger nesse lado quente pequizeiro  de cá através do furioso Thrash Metal feito num esquema mais old is cool. Bom, alguns meses atrás eu tinha combinado essa interrogação clandestina com o Gustavo, vocalista da banda, depois do cabra me convencer através de um bom lero que eu deveria seguir com este sítio até o lançamento do EP dos cabras (rizos). Fato é que eu já estava desencanado de tocar o blog naquela época e o incentivo foi tão intenso quanto achar uma trouxa perdida de diambra dentro do bolso de alguma calça surrada em tempos de seca. Bom, passado os meses, os bonitos lançaram o EP cabuloso "Massacre & Progress", que anda fazendo um certo burburinho por essas entranhas virtuais, muito por conta da alta qualidade e originalidade das músicas e letras, e eu levei um bom papo com estes bacharéis da sinfonia que agride a audição, e logo abaixo você pode conferir, conhecer mais sobre a banda e ainda de quebra ouvir o EP e descarregar em alguma unidade de seu periférico. Boa leitura e apreciação sonora.



Dead Meat é uma das ótimas novidades dentro do atual underground goianiense. Como surgiu a ideia de formar a banda e concepção do nome?

Primeiramente gostaria de agradecer pelo espaço e pelo interesse em realizar essa entrevista com o Dead Meat. Gostaria de frisar que é de suma importância podermos contribuir com o Licor de Chorume, um blog que tem bastante importância pra cultura underground.
O Dead Meat tem sua origem quando eu (Gustavo) ainda fazia o ensino médio, tudo começou quando eu conheci o Claudio e o Kaio Cordeiro, curtíamos metal e logo começamos a frequentar a cena metal de Goiânia e começamos a ter vontade de produzir algum som. Entretanto, as ideias demoraram a evoluir e concretizar, nós não sabíamos tocar nenhum instrumento e nem como fazer música ou como estruturar uma banda, éramos apenas garotos que sentiam vontade de tocar. Porém, eu  e o Kaio estávamos cada vez mais submersos  no Thrash Metal old school e  na realidade underground de Goiânia, inclusive é importante salientar a importância de um evento que acontece aqui na cidade do césio e que foi um divisor de águas nas nossas vidas... O Trash Core Fast, pois foi a partir desse evento que tivemos contato com bandas de hard core, punk, grind, crossover e com o D.I.Y. Sendo assim,  após entrar em contato com essa outra cena e principalmente com o faça-você-mesmx, nós ficamos mais seguros de fazer um som, mesmo sem ter muita noção musical, focamos muito mais na paixão pelo estilo e pela vontade de fazer música ... o resto foi consequência. Bom, sobre o nome da banda... o nome surgiu muito antes da banda realmente existir, eu e o Kaio queríamos um nome que tivesse um  significado para nós  e que conseguisse expressar posicionamentos políticos e de certa forma fosse agressivo, assim como o som que queríamos fazer. Nesse sentido, após várias tentativas frustradas de nomear o projeto nós chegamos nesse nome Dead Meat, pois para nós o nome   consegue simbolizar o vegetarianismo, libertação animal,  a admiração pelo Georg Romero e soava um bom nome pra uma banda de Thrash.

Vocês fazem um Thrash Metal bem na linha da velha escola, e por esses lados de cá o estilo estava bem estagnado, com a banda reacendendo um lance legal que é sempre surgir conjuntos de metal extremo na cidade. Essa espécie de revival foi intencional?

Fazer thrash old school sempre foi a nossa proposta, eu particularmente nunca gostei de sons que soam moderno, sendo assim, fazer um som  calcado no old school  foi uma parada bem orgânica. Eu sempre senti falta de bandas que fizessem thrash old school e infelizmente aqui na césiolândia a parada é meio devagar, entretanto, haviam ótimas bandas aqui em Goiânia fazendo esse tipo de som:  Mortaldread, Eternal Devastation, Baba de Sheeva etc. Espero que novas bandas de Thrash surjam e de outros estilos também, sejam old school ou modernas, a cena deve ser um espaço plural onde a cooperação e a livre expressão seja o principal objetivo.

Lançar um disco dentro do underground do underground é como caminhar léguas com o tênis dois números menores que o ideal, uma peregrinação lascada. Conte um pouco como foi  o processo de gravação do EP “Massacre & Progress”.

Produzir musica é algo caro... começando pelo valor dos instrumentos, ensaios, transporte e todos os gastos envolvidos. Mas acredito que o principal combustível para se produzir algo é a paixão, é ela que deve ser o fio condutor de tudo, mesmo com todos os obstáculos de produzir música o esquema é não desistir e dar um jeito de lançar o material. O processo de gravação foi simplesmente foda, o Guga (Guitarra) nos apresentou o Guilherme Aguiar (Spiritual Carnage/ Herectic) figura importantíssima para a concretização do nosso projeto, foi ele quem nos gravou, produziu e mixou o Ep.  Desde o início  ele abraçou o nosso projeto, entendeu a nossa proposta e se dedicou bastante para que tudo saísse da melhor maneira possível. A execução da gravação teve algumas dificuldades, porém, talvez as maiores dificuldades tenham sido para mim, pois o urbano (bateria) já havia gravado com o “Entre os Dentes” e o “Livre?”, o Guga já teve mil bandas e possui uma vasta experiência, o Paulo (Guitarra) é um viciado do caralho que passou a vida tomando toddynho, comendo pão de queijo e tocando guitarra, o miserável gravou tudo em um take. Sendo assim, eu era o com menor experiência musical, tudo era novidade e eu não tinha muita noção de como fazer, apenas meti as caras e fiz. O Ep contém 5 músicas, dessas apenas uma é da primeira formação da banda, esta foi a primeira música que fizemos, então achamos de suma importância gravar a “Tuiuti” pra registrar um momento  onde éramos apenas Gustavo (Baixo/Vocal), Kaio (Guitarra) e o Urbano (Bateria). As outras músicas do Ep são da formação que teve início em agosto de 2014 com o Paulo, Urbano, Gustavo e o Guga.

O que vocês ouvem atualmente em termos gerais e quais foram as influências para a concepção do disco?

Cara, Sepultura acho que é até óbvio falar. Mas gostamos muito de Kreator, Nuclear Assault, Judas Priest, Black Sabbath, Violator, Farscape, D.R.I., muito hardcore, R.D.P., Varukers e muitas outras velharias motivam a gente a tocar e a criar.

Vai sair material físico da bolachinha?

Sim, acredito que logo sairá o a versão física do disco. Algumas coisas já foram conversadas com um selo local e tudo já está sendo encaminhado. Entretanto, enquanto o disco não sai na versão física, os interessados podem fazer o download no nosso bandcamp.

Este nosso ambiente subversivo sempre passa por altos e baixos, e de uns tempos pra cá a escassez de locais é uma realidade triste. Como vocês enxergam o atual cenário pequizeiro?

A cidade do césio possui diversas cenas musicais, com diversas bandas diferentes, diversas formas de expressão. Assim sendo, o formato de produção é muito plural, por outro lado, existe uma cena hardcore, punk, e crossover que sempre caminhou por conta própria, produzindo cultura de uma forma independente calcado no D.I.Y. Para esse tipo de produção as coisas podem ser realmente mais precárias, porém não menos apaixonantes e menos divertidas, todavia, apesar das dificuldades de se organizar show e produzir cultura, eu saliento a dificuldade que é de se fazer algo em um pais lascado, vivemos em um pais onde a maioria é pobre e sobrevive com um salário minimo, então fazemos as coisas como podemos, da nossa maneira. Não há muitos locais para realizarmos os rolês, porém, há pessoas que bastante apaixonadas no underground que sempre colaboram para que toda essa engrenagem continue rodando.

“Tuiuti” foi a primeira cantiga que a banda mostrou de forma oficial, e o título é uma clara referência à Batalha do Tuiuti. Particularmente acho interessante citações históricas/políticas nas letras, pois dá a abertura de possibilidades para temas desconhecidos. Qual a mensagem que a banda deseja passar através dos escritos e quais são as inspirações na hora de rasurar o papel almaço?

Acredito que o conteúdo lírico de uma banda é de suma importância, é tão importante quanto a melodia. Portanto, sempre preocupamos com qual seria a mensagem passada pela banda, esse quesito sempre nos foi algo de reflexão. Assim sendo, a primeira letra que fiz foi a da Tuiuti, como você mesmo citou, a letra faz referência a batalha de Tuiuti, que foi um dos embates mais sangrentos de toda a história da América do Sul. Tudo começou quando estava fazendo aula de América III na faculdade e tive contato com trechos do depoimento de um soldado da infantaria, onde ele relatava a batalha e os seus horrores. Contudo, eu queria produzir letras que de certa forma se conectassem umas com as outras, a ideia não era produzir algo conceitual, mas letras que dialogassem ... A inspiração pra musica “Massacre” e o próprio titulo do álbum “Massacre And progress” vieram a partir da leitura do livro Coração das Trevas do John Conrad, narra uma viagem do marinheiro Marlow pela África. Nessa narrativa podemos perceber noções eurocêntricas sobre os conceitos de civilização e de barbárie associadas às idéias de raça comuns no século XIX. A noção de civilização, diretamente associada à Europa e à cultura européia, é o ponto central circundado pela trama. Portanto, o EP é uma crítica a ideologia do progresso, imperialismo e a todos os discursos opressores que visam dominar e massacrar o outro, seja humano ou não. E foi essa a teia que utilizamos para conectar todas as letras.

Já peguei um exemplar de fanzine das mãos do Gustavo e gostei muito do conteúdo e da produção. Como que anda o projeto e qual a importância da cultura zineira para este direcionamento cada vez mais digital e dinâmico?

Cara, o zine foi algo que sempre tive vontade de fazer, desde que conheci essa ferramenta eu pirei e quis começar a produzir o meu ... acredito muito no D.I.Y   e o zine é um dos símbolos dessa ideologia. Nesse sentido, apesar do zine ter todo esse peso simbólico para a música alternativa haviam poucos zines circulando nos rolês, foi quando eu e o Kaio começamos a querer fazer o nosso próprio zine, primeiramente por sentir vontade e necessidade de nos expressar e  comunicar, e pela carência de materiais circulando, decidimos colocar a mão na massa e fazer o zine do nosso jeito. O Cidade tóxica não possui muitas regras de produções não, geralmente a nova edição sai quando estou inquieto com algo e quando consigo vencer a preguiça que tenta dominar o meu ser, porém, o meu desejo é que  eu consiga lançar algumas edições esse ano.

A Dead Meat é composta basicamente por pessoas que são de uma geração mais recente da cena underground de Goiânia, e um dos integrantes é o Guga Valente, cabra dinossauro do submundo desse lado de cá. Como foi o ritual para a entrada do diplomata das cordas finas para a banda e rola alguma troca de experiência entre a velha e a nova escola?

Bicho, o Guga era o que precisávamos na banda... Depois da saída do Kaio e da entrada do Paulinho, nós decidimos que queríamos chamar mais um guitarrista pra compor o time. Mas não foi nada fácil, foi muito complicado encontrar alguém disposto a tocar, que amasse thrash 80’s e que fosse um cara politizado e estivesse com muita vontade de fazer barulho e incomodar esse mundo de merda. Além do mais precisávamos de um Bear ( gordinho peludo) para somar na parada... E foi através do Bacural que o Guga veio ao carne morta. Bicho, tenho um respeito imenso por esse cara, um cara que toca bem, cheio de ideias incríveis, disposto a dar o sangue pela banda, com uma bagagem de conhecimento e experiência musical e de vida que era o que faltava para nós.

Pra finalizar, valeu por aceitar essa tosca entrevista, agradeço também pelo papo que levamos certa vez no Estúdio Sonoro, ali foi fundamental pra que eu seguisse com essa imundice de blog. O EP tá a fina flor do Thrash 80’s e o Espaço fica pra vocês vomitarem o que quiserem. Obrigado e até qualquer momento.


Nós é que temos que agradecer por este incrível espaço, certamente um dos melhores blogs underground do país. Que a cena de Goiânia continue se fortalecendo e que os espaços culturais possam voltar a emergir. Reforçando, quem quiser ouvir nosso som, dá uma olhada no Youtube ou no Bandcamp. Baixe, pirateie, divulgue nosso som! E curta Thrash!!

Página da banda: Dead Meat
Bandcamp: deadmeatthrash.bandcamp.com


Ouça e baixe o EP "Massacre & Progress" aqui: