9.9.18

Facada - Quebrante (2018)




Voltando pra esse espaço que serve de fuga desse mundo sombrio, espero que essa maldita vida corrida me dê um pouco de trégua pra escrever mais por aqui. Entre um projeto bem feito e outro saindo do papel depois de uns 4 anos, voltei empolgado pra colocar alguns rascunhos em dia. 
Por conta dos últimos acontecimentos dentro do cenário podre da nossa política, nada mais correto do que falar sobre o mais recente disco do Facada. A banda, que é uma das favoritas por aqui, soltou recentemente o maravilhoso Quebrante, sucessor do clássico contemporâneo do submundo da música extrema conhecido pela graça de Nadir. Nesse novo trampo, esses bandidos do subterrâneo cearense seguem a mesma linha agressiva do disco anterior, grind extremamente agressivo e boas mesclas de crust. Com uma rotina por vezes entediante durante a semana, a minha relação mais próxima com esse disco aconteceu muito no trajeto matutino para o meu trabalho. Entre um congestionamento fadigante, uma tia que sempre estava dormindo na mesma calçada em que passo todos os dias e um nóia bebendo pinga às 7 da manhã no sinaleiro, as 23 faixas de Quebrante martelavam aquele contraste diário em que eu só queria fugir daquelas cenas que eram os tapas diários que eu levava (e ainda levo) na face. Foram quase dois meses de audição intensa, entendendo a cada minuto escutado que esse mundo é uma completa farsa e que as pessoas são sujas , egoístas e podres (claro, tem aquelas que ainda compensam). As letras, além da sonoridade, sempre foram o que mais me fizeram gostar da banda, e nesse registro não é diferente, os cabras não fazem cerimônia pra falar do buraco sem fundo que é essa nossa atmosfera que mistura sociedade e poder. 
Engraçado ou não, triste ou não, nessa semana que passou, um político mais que fascista levou uma facada no bucho, talvez por discursar e propagar tanto ódio e preconceito, o bumerangue voltou contra ele de forma quase letal. Logo me veio em mente o Facada, foi coisa imediatista da mente mesmo, e não demorou muito pra galera fazer as suas analogias entre a banda e o acontecido. E muito do que é dito nesse disco, representa toda essa patifaria que circula entre internet, ruas, trabalho, faculdade e demais ambientes coletivos. Alguém mais desavisado deparando com essas músicas pode pensar que os caras são meio que visionários, mas nem é, é questão de relatar o óbvio que está bem em nossa frente.
James & Cia colocam cada vez mais a banda em um patamar elevado dentro do underground, de maneira simples, sincera e sem muito oba oba. Quem acompanha a banda de perto ou de longe sabe do que estou falando, que o Facada já é uma das lendas da música extrema desse país, o que eu lamento de verdade é de nunca ter visto uma apresentação desses loucos, sempre aconteceu algum evento ruim que zicou a oportunidade de vê-los em ação. Mas algum dia pago essa dívida pessoal, no mais só tenho a agradecer a banda pela existência e pelo barulho que fazem, agradecer a Black Hole e a Läjä por lançarem de maneira brilhante esse discásso. Vida longa sempre ao Facada!