15.1.19

Gin, Racionais e Satanás

Começo de ano, energias revitalizadas pra suportar esses tempos sombrios que permeiam os nossos meios e resolvi voltar mais ativo com o blog, que nesse 2019 completa dez anos de pura tosquice. Sexta passada rolou um evento-chamego em uma das novas casas da cidade, a Monkey. Devidamente programado pra bater o ponto no baile que levava o singelo título de Possessão Diabólica, logo pela manha cheguei  em minha jega (aka sala de trabalho) e desde as primeiras horas da sextinha o roteiro completo da algazarra era planejada de forma frenética nos grupos do zap em que participo. Como já tinha um tempo que a minha pessoa não dava o ar da graça nos eventos mais undergrounds, a expectativa em rever pessoas, sentir o clima do ambiente e ver de perto as bandas escaladas pro rolê era grande. Bom, terminado meu expediente, o combinado era fazer um esquenta ouvindo um som e bebendo bons drinks de gin. Compra água tônica, compra limão, compra gelo, prepara a bibida, bebe, volta a preparar, bebe novamente. E assim foi o ritual antes de chegar no local da comunhão.
Peguei um Uber com mais dois meliantes e partimos atrás da caminho do canhoto. Chegando na porta percebi que o estabelecimento de diversão roquista era bem ajeitada e aparentemente agradável aos meus lindos olhos. Depois de uma breve identificação na portaria, bêbado e de corpo aberto, fui cumprimentar o Bacural, que comandava as cantigas no esquema vitrolinha de um lado e um celular do outro. Entre um Seek & Destroy do Metallica e um Isto É Olho Seco do próprio Olho Seco, peguei uma ampola de 600 ml com um preço bem justo e sentei numa das mesas espalhadas pelo espaço externo do pub. Conversa aqui, cumprimenta ali, bebe acolá e começo a observar o lindo pessoal que aos poucos lotava o espaço. Entro na salinha pra sacar pela primeira vez o som da Sömbriö, e gostei muito do que vi. Metalpunk com umas pegadas de crust e bateria de cavalo manco,.Paulim com o seu visu que lembrava os cabras do Destruction em fase inicial, sapecava a mão na guitarra e gargarejava bonito, enquanto o Rubens empenava bumbo, caixa e pratos. Fernando, um dos baixistas que a banda possui, lapidava as cordas grossas como se estivesse esculpindo lenha no machado. Bela apresentação que abria os trabalhos da noite. Fui pra fora pegar um ar e tomar bibida, enquanto alguns olhares tortos direcionavam pra minha vestimenta (camiseta do Descendents). Poderia ter ido com alguma camisola do Hellhammer ou do Exodus, mas não tenho e o que restou foi essa, pois a peita do Twisted Sister não estava devidamente limpa. O que tinha de gente com cinto de bala no local era de impressionar, a munição que segurava as calças coladas dava pra tomar Marzagão inteira de assalto. No som, o deejay intercalava um Ratos de Porão e Sarcófago, quando chegou em meus ouvidos a informação de que teria um remix de algum discurso do Bacural em mp3. Fiquei esperando, não rolou e logo fui prestigiar a segunda banda da noite, a Dead Meat. Com nova formação em power trio, Gustavo & Cia dichavava o seu thrash metal da forma mais agressiva e crua possível. Sabe ali o Sepultura do Bestial Devastation? Então, a pegada foi essa e percebi que o público gostava do que via. Regulagem no talo, som pesado e eu me sentindo um headbanger tropical no ambientinho fechado.
Já do lado de fora, tocando um misto de Judas Priest e Iron Maiden, fui ao banheiro descarregar o líquido armazenado, e todas as vezes era um combo de 3 a 4 pessoas saindo ao mesmo tempo do toalete, não entendi bem, mas imagino que era o aperto de fazer as necessidades (pensei). Já completamente louco, mas ainda consciente, notava alguns rôustos novos e que tive a curiosidade de conhecer. Com a fome querendo manifestar, descolei umas onion rings e chamei um amigo pra dividir a iguaria comigo. De bucho cheio, carreguei a cartucheira de bibida e a cada sentada era uma munição a menos. Já com os olhinhos de peixe morto, fui sacar o som dos amigos de Brasília da Malicious Intent. A desenvoltura de Pícaro nos vocais era digna de colocar muitos frontmans no bolso. O death/grind da banda é brabo e bem orquestrado pelo quarteto, que no começo estava com a regulagem das cordas finas e grossas um tanto baixo e que foi ajustado depois de um toque que uma mina deu pra rapaziada. Não conhecia o som e interessei depois da apresentação pra saber mais sobre a banda que leva o nome de uma musiquinha do Napalm Death. Quando começou Troops of Doom do Sepultura lá fora, a metaleira toda fazia um grande coral emocionado. Aproveitei também pra passar os olhos nos merchans disponíveis e tinha uma variedade legal de materiais, vestimentas e demais artigos subversivos. Com alguns acordes começando ao fundo, fui ligeiro pra ver de perto a apresentação da clássica Desastre. Com uma nova formação que eu não me lembro de ter visto em ação, a banda passou por sons antigos e músicas do recente EP Vasto Deserto. Apresentação clássica, como sempre, que me fez sentir numa espécie de atmosfera punk oitentista. Vez ou outra meu pobre corpo era ferido por algum bracelete com pregos, isso me fez ficar mais ligado em possíveis rodas dentro daquela salinha. Do lado de fora, o clima estava maravilhoso ambientado por clássicos do metal nacional, que iam de Harppia até Taurus, deixando a nostalgia aflorar nos corações daquela gama de gente de preto. Bom, passados alguns bons minutos ali num bolinho de roda, era anunciada a abertura dos portais do inferno, pois a Flageladör (primeira vez em Goiânia) estava prestes a destilar o seu thrash metal com cheiro de enxofre. Adentrei na sala e minha pressão deu uma leve desregulada por conta da forte presença de satã naquele espaço. Logo de cara notei as vestimentas dos integrantes, e me chamou a atenção os brincos de cruz vermelha invertida que o baixista usava, além dos braceletes, resgatando a estética do estilo lá nos perdidos dos anos oitenta. O vocalista Exekutor, que se apresenta com um capuz em clara referência ao Sodom disparou clássico atrás de clássico da banda naquela noite/madrugada, com o púbico cantando, pogando e delirando. Fiquei mais no canto curtindo o peso da banda e em determinada hora em que eles tiraram os acordes de Assalto da Motoserra, me senti na atmosfera do SP METAL, tudo feito de maneira intensa e real. Diversão, ritual e reverência à esses profanos do som acelerado, foi o que eu absorvi ao final da bela apresentação, fechando a noite das bandas e que prosseguiu com a discotecagem, que nessa altura passeava entre a new wave, Billy Idol, The Clash, Ramones, e fechando em grand finale o esquema todo, o DJ atendeu a pedidos e terminou o baile com Jorge da Capadócia/Capítulo 4, Versículo 3 dos Racionais. Nem preciso dizer que fiquei emocionado, e que voltei pra casa completamente satisfeito com tudo que vi.
O Saldo final do rolê foi: bela noite em prol do metal profano, evento muito bem organizado, ambiente bom, muitos elogios para a Monkey, desde o espaço, passando pelo preço das bibidas. Espero que dure por muito tempo e que mais eventos dessa natureza volte a acontecer na cidade. Em tempos tenebrosos, andar ao contrário e resistir à sua maneira torna-se mais necessário pra que possamos construir os nossos submundos paralelos em meio à tanta repressão e ignorância. Estamos vivos!

1 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz, que resenha bem feita! o capiroto estava animado nesta noite profana aí no Centro Oeste... agora em tempos de isolamento e coronavirus, eventos deste porte vão ser difíceis. Mas como diria o Mozine e seu séquito maravilhoso/conjunto MERDA: "O diabo está sempre ao Seu Lado" hahaha. Abraços e continue com este zine porreta. Burzum Marley na oreia!