10.10.11

10 Anos de Insetu's - Uma década de resistência(Parte I)

Foi no sábado, 01 de outubro de 2011. Eu acordara com uma ansiedade muito grande naquele específico dia. Passou um filme na cabeça de tudo que eu, com meus poucos 27 anos de vida, já tinha passado, visto e convivido no meio punk/hardcore, seja com meu irmão, seja com seus amigos ou de meu próprio interesse por esse estilo que tanto arrebanha perdidos e perdidas nesse mundão afora. Pois bem, acerca de mais ou menos um ano, Walkir, lenda do underground goianiense e do centro-oeste(definitivamente esse é o adjetivo que melhor representa esse guerreiro), chegou com a idéia em mente da comemoração dos 10 anos da Insetu's Produções, organização que já trouxe para Goiânia bandas do naipe de ROT, Cólera, Atack Epiléptico, Vulcano e tantas outras bandas importantes do cenário agressivo independente desse país. Idéias expostas aqui, opiniões rejeitadas ou melhoradas ali, pessoas agregando ao sonho do cara, dificuldades, parcerias desfeitas e eis que conseguia-se fechar o retorno definitivo aos palcos da lenda do punk mundial Olho Seco, e isso se daria aqui na capital, o que era melhor e incrível. Minha primeira reação ao receber tal notícia foi de total euforia, emoção e muita espectativa da concretização desse sonho em ver o Olho Seco nos palcos. Os meses se passaram, pessoas criticaram, não botaram fé na parada, atitudes ridículas e invejosas foram vistas nesse meio virtual...enfim, muitos vidros quebrados foram pisados, mas a caminhada seguia firme e convicta até nesse exato dia, histórico para muitos, comum pra quem não faz parte ou não sente isso na alma. Sei que passei o dia correndo com os baurus que seriam vendidos naquela noite, passei o dia ouvindo só punk nacional, lógicamente para entrar no clima daquele lendário dia. A caminho do local, uma chuva, que há meses não pintava na cidade, resolveu cair e refrescar os lyndos corpinhos dos sebosos que iriam bailar mais tarde nos quentes teatros do Centro Cultural Martim Cererê, local mais que ideal para a celebração daquela elegante festa. Chegando ao local já era possível ver uma aglomeração de podres e mal vestidos nas dependência internas e externas do local. Amigos, amigas, seguranças, pessoal das bandas e o Paulo(baixista da banda C.R.A.C.K.), raparigo que veio na raça lá de São Paulo para prestigiar o evento. Tô pra conhecer um rapaz daquela marca, finése nas idéias e no visual(camisóla do Corre Que Jesus Voltou deu um charme peculiar para o lyndo). E aos poucos a aglomeração de pessoas ia aumentando, enquanto eu montava os esquemas para a venda dos deliciosos baurus, da barraca do chorume. Do lado havia uma caixa com o som no talo que tocava os clássicos do Cólera, uma clara homenagem ao falecimento do vocalista Rédson, o cara tinha nos deixado de forma inesperada três dias antes da realização do evento. O climão tava fyno, conversas rápidas com Eduardo(O Grito do Inimigo), Guga e André acerca daquela noite davam mais ansiedade em minha pessoa e a correria(pra variar...) não parava. Ficara sabendo com muito pesar que o Coerência, banda de hardcore melódico daqui da cidade, não iria tocar por conta de atrasos acerca da montagem de palco, som e por compomissos de integrantes do conjunto. Baurusilhos começando a ser vendidos e o Overcome dava o pontapé inicial para aquela noite repleta de expectativas e emoções. Ao adentrar no teatro percebi algumas dezenas de infelizes espantados com a banda, especificamente com o vocal capirótico de Amanda, confesso que também sempre fico boquiaberto com o contraste do visual singelo da garota com seu gutural satânico. A banda mandou bem com a mistureba de deathcore/hardcore das mais bem feitas, achei o som meio desregulado, mas a pegada forte do começo ao fim da rapaziada fez esse detalhe passar desapercebido e ainda fazendo alguns infames, ainda frios, sacudirem seus troncos de jatobá de forma bem intensa. É, a noite começara bem.
Voltei para o meu posto de vendedor de bauru, acompanhado sempre de um bom brega, num desses celulares mordenéx e tal. Conversas boas com dinossauros e novos, cheiro delicioso do bauruzéx me deixava até com frio na espinha, e eu partia todo ligeiro pra ver a apresentação do Death From Above, e amiguinhos..., Glauco, Danny e Slake estão perfeitamente lyndos no
palco, apresentação clássica mesclando cantigas antigas e novas, e é fato dizer que os moçoilos estão entre os melhores do estilo(d-beat) no país. Ao sair de dentro do teatro, chegara ao meus ouvidos a notícia de que havia um tiozim completamente cagado perambulando nas dependências do espaço, fiquei totalmente estasiado, querendo encontrar o engenheiro pra poder apreciá-lo de mais perto. Aos que me relataram o fato, a conversa era de que o odor do raparigo estava insuportável, ou seja, a noite realmente estava perfeita, com gente cagada, feia e sem esperança desfilando por ali. Entre uma ida rapidóla ao banheiro, uma cervejéx geladíssima e baratéx(fato raro e louvável nos eventos daqui da capital), piriguetada com meu amor, eu ia trombando com figuras como o incansável e não menos lendário Felipe CDC, Totors(Innocent Kids), o Tiranossauro Rex Israel, Gilmar(A.R.D.), Chiqueirim e o lendário e elegante Meleca, todos com expressões felizes em suas faces. Parti pra ver a apresentação dos comparsas do Abalo Sísmico, galera que representa com muita honra as periferias de Aparecida de Goiânia através do hardcore/punk. Era a primeira vez que os bacharéis subiam aos palcos do Martim Cererê e os quatro garotos, que não eram de Liverpool, vomitaram toda a ira contra o sistema e sociedade em cantigas rápidas e cantaroladas fora do tempo pelo insano Muhamad. Stopa, na batera, se deliciava na arte de escapulir baquetas durante as músicas, enfim, apresentação digna para os que entendem e assimilam a mensagem que a banda passa.
A noite seguia perfeitamente bem e chegara aos meus sensíveis ouvidos a notícia de que o Sangue Seco estava fazendo a negadis bailar até fazer sabão nos pés. Cheguei e vi um show impecável, Eduardo, Guga, André e Aurélio esbanjavam emoção e alegria por tocar e dividir
aquela noite com a lenda Olho Seco. Mesclando músicas já conhecidas com cantigas novas que farão parte do próximo álbum do conjunto, a apresentação foi uma ode ao punk, com discursos curtos emocionados, referência ao saudoso Rédson, público satisfeito e o tiozim cagado deixando seu rastro por toda a parte. Voltei novamente para o balcãozinho pra peparar mais uns rangos pra galhere, algumas moças ouriçadas com a presença do batera Pedro do Agrotóxico/Kaos 64 ali pelas imediações do bar, alguns stencils em uma lona exposta próximo à portaria davam uma destacada legal no visual externo. Corri igual um lascado véi pra ver o Tarja Preta, banda da nova geração daqui da cidade que faz hardcore agressivo e sem frescuras. E foi isso que os infames presentes puderam ver da apresetação dos rapazes, com um vocal altamente agressivo, cover de Ratos de Porão que deixou a galhere mais entusiasmada e uma apresentação simples e digna, já que os joviais também estreavam nos palcos daquele teatro. Uma leve desconjuntura intestinal me fez ausentar e suar muito em um banheiréx mocosado por alguns looongos minutos.
Passado o sufoco e aliviado, resolvi beber mais algumas cervejas, jogar conversa fora com alguns conhecidos e descansar um pouco de toda a correria que estava sendo até então, de fazer baurus, ver shows, tentar fotografar, guardar instrumentos, ufa!
A noite estava agradável ao extremo, refrescante por causa da chuva que havia caído mais cedo, nostálgica pela presença de velhos amigos e em meio à essas
sensações, o Descarga Negativa subia aos palcos para destilar o seu veneno. Walkir com toda a correria que aquela noite estava lhe proporcionando, conseguiu separar um tempo para fazer uma das coisas que mais gosta, expor pra fora toda a indignação, raiva e falta de esperança nos vocais de sua banda, que voltou com tudo recentemente à ativa e isso foi muito bem visto pelos presentes. Apresentação curta e muito intensa, papo reto e sem frescurinhas, pra quem conhece Walkir, Junior, Stopa, Josias, e Taufic, sabe que a postura não seria diferente, gostei muito do que vi, daqueles, que acima de tudo, são meus amigos. Bom, essa foi a primeira parte desse lendário dia para a "cena" goiana, se gostarem, beyjo no coração, se não..., beyjo no coração também.

Continua...


Fotos por: Nati Simão

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