3.3.11

Você é hardcore?






É o seguinte galhere, a partir de hoje esse espaço do blog será tomado por textos que irão abordar temas como a cena local, público, atitude, consciência e tal, tudo baseado nos princípios que o hardcore ensinou e que andam esquecidos por uma boa parte da galera. Existe aqui uma clara intenção de instigar a sua mente e colocá-la em pleno funcionamento(ou não...).
Pra começar, é sabido que de uns tempos pra cá a cena hardcore goiana anda bem movimentada, com shows interessantes acontecendo semanalmente, bandas de outros estados fazendo um intercâmbio legal aqui na cidade, tudo isso contribuindo para o fortalecimento da dita cena. O público por sua vez, ainda é a principal chave da questão nesse ponto. Pois vamos partir do pressuposto de que hoje só temos um local na cidade para a realização de eventos desse naipe por aqui. Ainda que seja a única opção viável para a realização de shows atualmente na cidade, o mesmo está bem longe de ser o ideal, pois é muito fácil de ver cerca de 30 pessoas se debatendo em uma pequena, quente e apertada sala de estúdio, enquanto cerca de 100 ou mais cabeças ficam a par da situação, bebendo a sua catuaba na porta, desfilando camiseta de bandas que eles nem sabem de onde vem e qual a mensagem que passa e o pior de tudo, aceitam com muita passividade. Penso que já passou da hora dessa galhere parar um pouco de fumar maconha na mansão do amigo, ir para a porta dos shows com o audi do papai, pagar de hardcore, de verdadeiro underground e se inteirar verdadeiramente no "movimento", lutando para que mais espaços apareçam e tal. Outro fator importante seria a descentralização do locais, voltando lá nos primórdios do punk/hardcore, começando a realizar eventos nas periferias da capital, dando voz para aqueles que quase nunca tiveram.
Enfim, a idéia que quero passar é de que vocês, lindinhas "marias bandeiras" que vão nos eventos simplismente com a intenção de liberar o miolo do agregador para os integrantes de bandas pelo simples status, devem agregar mais para a cena montando bandas, organizando eventos e colocando suas reais idéias pra fora para que todos saibam o que vocês realmente pensam e que vocês playboys que andam com camisetas do Municipal Waste e terminam a noite na pastelaria achando os bam-bam-bams, que passem a entender que vocês são muito mais que números na cena, mais que meros compradores de merchans de bandas, pois a cena goiana está precisando de menos visual e de mais atitude, de pessoas que agregam valores, que reivindicam seus reais direitos, sejam eles na música ou não, pois no dia seguinte você volta a ser mais um capacho do sistema, enfrentando ônibus lotado, patrão racista e aceitando tudo com um conformismo que assusta. A idéia é de que temos que deixar o status um pouco de lado, o homem poser que existe dentro de você e que tu utilize a autogestão incrustada em suas raízes da forma mais coerente e certa possível em prol não só da cena mas também da comunidade em que você convive, pois você não vive sem o hardcore, mas o hardcore vive facilmente sem você. Pense nisso, jovial. Beijo no coração, lindos(as).

Obs.: A foto em questão só demonstra que a realidade é muito mais do que uma bandana na cabeça ou uma tatto descolada na batata da perna.

15 comentários:

Tiago Schmöller disse...

Com certeza muitos "Punks" hoje em dia deveriam deixar um pouco a rebeldia de lado e começar a ter um pingo de atitude. Atitude não é tatuar um "A" no peito e sair se drogando pelas ruas, fechar o pau em casa e quebrar tudo o que vê na frente!
Aqueles que se importam com a imagem de ser punk, na verdade estão fodendo com a reputação de quem é punk e tem atitude de verdade, pois hoje em dia punk é tratado como ladrão!

Anarquia não é desordem, muito pelo contrário, desordem é o sistema de governo em que vivemos!

Diogo Rustoff disse...

Concordo em muita coisa dita no texto, mas deve-se pensar também, pq a cena não consegue agregar novos participantes ou ao menos não afastar os que já freqentavam os shows e participava de alguma forma.
Faz certo tempo que não vou aos rocks, não tenho muita autoridade para falar no assunto, mas para mim, falta um pouco de profissionalismo na organização dos eventos. Sei que não é fácil organizar um show, por isso mesmo não organizei nenhum, pq quando o fizer, tentarei fazer com que não seja mais um rock-de-fim-de-semana-com-as-mesmas-bandas-de-sempre. Em meus 7 anos de rock em Goiás parece que, continuo indo aos mesmos shows. Sem novidades, como num relacionamento falido.
Isso acima é apenas algo para se pensar.

Licor de Chorume disse...

Concordo com o que você disse Rustoff. A falta de profissionalismo dentro da cena é algo que também precisa ser melhorado para que a mentalidade das pessoas mude também, penso eu. Não fizemos um evento ligado ao nome do blog justamrente por essa situação, não queremos fazer algo meia boca, que venha apenas reunir uma galera e quando acabar no outro dia quererem fotos ou algo do tipo...queremos palestras, oficinas, diálogo...saca...tudo isso englobado dentro do contexto punk/hardcore...enfim...outros textos virão, bons ou ruins, eles virão....

abraço!

Diogo Rustoff disse...

Acho estranho a cena aqui, bandas nacionais renomadas também começaram tosquissimas, instrumentos ruins, locais piores, mas evoluiram. aqui parece que as pessoas se contentam com o super tosco, com o local apertado, com o amplificador que chia, esse tipo de coisa.

Renan Accioly Wamser disse...

Rustoff disse tudo. Atualmente ando preferindo ir aos rock mais para encontrar meus chegados do que pra curtir o show, não pelas bandas. Porque muitas delas fazem um som realmente bacana. O que pesa na decisão de entrar ou não é o seguinte: o ambiente e a organização. Toda vez é a mesma coisa: lugar apertado, quente pra caralho, show começando atrasado e tudo desorganizado.
Não é somente o evento, é todo o esquema que envolve o show, inclusive flyer, organização e seleção de bandas e tudo mais. Tudo feito na tosqueira. Ai você fica pensando em casa : se o cara que organizou o show nem se dispôs a fazer um esquema direito, pq eu sairia de casa pra curtir esse parangolê e ainda pagar por um trampo feito nas coxas?
O esquema é esse: quem se contenta com o super tosco paga pra ver, enquanto continuar assim eu prefiro gastar minha grana num disco bacana e ficar em casa ouvindo, bebendo uma cerva.

A salvação anual do rock goiano é o thrashcore, nego devia se espelhar nesse evento antes de pensar em fazer qq coisa. =]

rs.morais disse...

Acho que um grande problema da cena aqui é o nao-surgimento de novas bandas. A molecada acaba perdendo o interesse em ver as mesmas bandas. É legal ter varias bandas antigas na cena, mas é muito melhor ter essas e mais uma pá de novas surgindo. Isso gera sangue novo, publico novo e todos os outros elementos que fazem a engrenagem girar. Mas o foda - como disse o Rustoff - é que a coisa é meio que feita de qualquer jeito, não precisa ser corporativo, estatal e tal, mas poderia ser feito com um pouco mais de cuidado. Da maneira como é o interesse fica pequeno, e ai é mais atrativo/interessante pra um moleque ver uma banda de rock e querer tocar um som calça apertada que tita onda vintage/rock sei la o que...A conversa aqui dura muito viu.

Licor de Chorume disse...

Como tu disse, o debate é longo e tal e tem que começar a partir de uma premissa, pra gente foi esse pequeno tosco texto que se o tempo e alguns fatores contribuirem estaremos correndo e lutando por uma pá de situação que engloba isso. Locais adequados, bandas novas, surgimento de um público inteirado...enfim, todo esse contexto parte de um lance organizacional que igual citaram não é porque o som é tosco que tem que ser mal feito...e por aí vai

é bem lamentável eu ter que assistir bandas que eu sempre quis ver de perto em minha cidade sem um respaldo legal e tal...

como disse, o debate é longo e bom!

Eduardo Mesquita disse...

Honestamente, acredito que é como diz a namorada do cego: o buraco é mais embaixo.
Não é só a tosqueira dos eventos, coisa que eu sempre critiquei e por isso fui criticado. O duro é a tosqueira dos pensamentos e dos comportamentos.
Por causa de algumas vozes influentes no meio criaram-se algumas ideias burras que viraram verdades. Ideias como o jeito certo de vestir, o jeito certo de ir ao rock, o jeito certo de se comportar, como se existisse um maldito manual de comportamento. Com isso a tosqueira dos eventos é consequência natural, já que os "donos da verdade" organizam coisas toscas, moleque começa a acreditar que tem que ser assim sempre.
Falta organizar evento em escolas, fazer palestras, varal de cartazes, mural de zine, "aula" de história de movimentos sociais e culturais. Faltam iniciativas agressivas de agregar gente, mas gente que venha com qualidade, porque somente quantidade não se justifica. O Licor se tornando um núcleo desse tumulto já começamos muito bem.

Thiago A disse...

Vejo que hoje o grande problema como disse a galera acima seja a falta de estrutura e profissionalismo e ambiente, só que com uns míseros 5,00$ encontramos uns poses nas portas mendigando a entrada e chorando para fazer uma promoção a entrada, como diz Datena 'MEAJUDAAI'
Tem também o grande problema dos alvará e tantos outros empecilhos.O mais é isso gostei do texto e temos que debater este tipo de assunto.

Licor de Chorume disse...

Eduardo, isso que você disse é a mais pura verdade, segmentou certas atitudes e o moleque vai ali simplismente pelo som, não se interessando por outros fatores que para a gente se torna importante não só para a cena em si mas para a formação do indivíduo. Esse lance de descentralizar os eventos e começar a levar a informação de forma certa para a periferia e outras ações, acreditamos que seja um dos pontos iniciais para que o moleque saiba porque ele está vestindo tal camisa, consumindo tal música e porque o amigo dele está nas ruas reivinicando direitos conquistados e tal. Articular ações com pessoas certas e que venham agregar e servindo de exemplo para os mais novos se torna necessário e urgente, pois o conformismo de certos por aqui assusta e assusta muito!

GBU disse...

hum.. é complicado.. é noise!

marinho disse...

Rapaz, aqui em João Pessoa sofremos dos mesmos problemas. Ao que parece, ou pelo menos eu e mais um monte esperamos, é que as coisas possam melhorar agora com a abertura de um novo espaço aqui na cidade chamado POGO PUB. O lugar é apertado pra carai e quente pra porra, mas pra quem não tinha opções de rolé como nós órfãos aqui de Jampa já é um bom começo, ou melhor, RE-COMEÇO pois já vi um doc daqui mostrando como era o dito underground no início da década de 90. Sem contar que esperamos que com a criação de mais este espaço possa rolar gig´s com mais frequência, creio que o organizador lá do local também apresente alguns eventos com palestra, exposições e tal. E uma impressão que eu e muitos outros temos aqui, é que rola muita panelinha tipo, o fato de rolar as mesmas bandas num determinado espaço nos mostra que tal espaço é só para os amigos do DONO do local se apresentarem, não há abertura a outras bandas e artistas da cidade. Um fator que acredito estar matando a dita cena, deixando até elitizada de certa forma, é a divulgação destes eventos feitas quase que unicamente pela internet, não existem mais flyers, cartazes e boca-a-boca é feito apenas entre meia dúzia de playboy e gente descolada já carimbadas pela tal cena. Por essas e outras que eu mesmo nem procuro fazer parte direta disto. Como já dito aí no texto, o que liga é cada um leva a sério o DIY.

Licor de Chorume disse...

Então Marinho, percebo que essa idéia que soltamos aqui no blog aflinge outros lugares, como você citou e como alguns da região Sul também citaram. Temos outro espaço aqui na cidade, o problema é a relação complicada que os organizadores enfrtentam com o dono do local, tornando aqui na cidade atualmente o OLD STUDIO o único lugar viável para a realização dos eventos. Não é o local ideal, é o único que temos e a busca por novos espaços tem que ocorrer. Sei que na prática as coisas tendem a tomar outros rumos, mas temos idéias de levar informação certa para a periferia, descentralizar os eventos e tal...como eu já disse em alguns comentários...enfim...valeu pelo comentário.
Abraço

Mariana Barbosa disse...

Nossa, extremamente machista isso, hein: "que vão nos eventos simplismente com a intenção de liberar o miolo do agregador para os integrantes de bandas"!!!

Que isso!!!

Licor de Chorume disse...

é a realidade de certas minas aqui na city...coloquei de uma forma bem crua o que acontece por aqui...sem mascarar o que realmente acontece e tentei passar a idéia de que as minas tem que se inteirar mais na cena e não ser apenas objeto, se tu entendeu errado, vai da sua interpretação, pois acho que você não conhece bem os toscos que detem os direitos milionarios desse blóg, machismo tá passando bem longe dessa estrada, lynda! é isso....