28.3.11

Um sábado da bhesta

Desde a última sexta-feira, na qual eu estava presente no já tradicional chorinho do Grande Hotel, situado no centro de Goiânia, local onde os encontros e desencontros ocorrem de maneira bem peculiar, minha expectativa pelo rolê de sábado consumia boa parte de minha tosca ansiedade exagerada, tudo por conta da possibilidade em ver as apresentações da lenda do d-beat mundial Besthöven e do rap "charles bronson" do Facção Central. Pois é, depois de uma noite/madrugada agradável ao lado de nobres bebedores de lança perfume, pessoas interessantes e dispensáveis, o sábado chegara pra mim com o telefone tocando exaustivamente e com a triste realidade de não ter um puto sequer no bolso. Lascava-se tudo pra mim naquele momento, vendo o rolê digno escorrer pelo ralo do esgoto e me conformando em ficar vendo Altas Horas e programas que o valha. Tratei de agir na vida e com a minha vasta experiência na profissão de auxiliar de serviços gerais, capinei três quintais de vizinhos conservadores pra conseguir a grana e por em prática o passeio arquitetado em minha doce e limpa mente. Dinheiro ganho, parti para o Old Studio e durante o trajeto chegara o aviso diretamente em meu tosco celular a notícia de que o rolê para o show do Facção Central teria que ser abortada por motivos de tretas antigas. Cheguei atrasado ao local e com isso eu ficara sabendo que tinha perdido a apresentação dos amigos do Abalo Sísmico. Em conversas paralelas, me disseram que o concerto dos jovens tinha sido bem lynda, com direito a streaptease por parte do vocalista da banda, que atende pela alcunha d Muhamad.
Entre uma partida maneira de sinuca, uma cerveja gelada, um caldo bem apimentado, conversas e expectativas acerca da apresentação de Fofão e sua trupe maligna, o pessoal do Death From Above iniciavam a batalha, enquanto minha pessoa trocava idéia do lado de fora do recinto com algumas figuras da cena. Com um público razoável e bastante empolgado, uma bandeira de tamanho legal e com a logo dos "d-beat maniacs" ao fundo dava um charme maior para a apresentação dos bonitos. Ali não tinha espuma, nem prancha, muito menos balões, mas o agito do pessoal compensou a "falta" de recursos, joviais se contorcendo de forma bem sincronizada, respeitosa e decadente. Após a apresentação impecável de Glauco e sua turma, fui tomar um pouco de fôlego para aguentar a intensa jornada daquele excelente sábado, até então. Fuçando discos sorrateiramente em uma brecha da parede pela figura de Xiquerinho, entre uma farofa e outra(de Kiss à Motley Crue), encontrei um vinil do eterno malandro bezerra da Silva(O Melhor do Partido Alto, de 1981). Por 5 cruzeiros novos arrebanhei a bolacha e o sorriso na cara eu não conseguia mais disfarçar. Satisfeito com minha aquisição, fui para a apresentação dos candangos do Murro No Olho, banda essa que eu tinha visto de forma brilhante na histórica apresentação do Varukers, lá no Conic. O crust sujão e pesado do conjunto demoraram um pouco para empolgar os joviais espectadores da desgraça sonora. Gostei muito do que presenciei, apresentação bem crua e direta, destacando também o contraste legal que o elegante Felipex causa na banda.
Conversas boas, suór, som alto e um tagarela gordinho davam o tom daquele inferninho em que o recinto se transformara. A ausência de boa parte do pessoal dito e inserido na cena punk/hc da cidade, era pauta constantes nos papos. Tá que muitos daqui não conhecem o Fofão e a enorme representatividade que o Besthöven tem para a cena, não só nacional, mas mundial. Mas buscar conhecer, abrir novos horizontes, conhecer e entender mais da cultura underground que você tanto exalta em frases de MSN e camisetas descoladas é um dever, saber que a festa é sim necessária para aliviar as tensões do dia-a-dia, mas que a consciência político/social e a contracultura também estão inseridas nesse contexto e que isso forma caráter e uma pá de coisa que eu poderia descrever em centenas de páginas e tal. A mudança de postura é importante e necessária não só para o fortalecimento da cena, mas para a própria moldagem do caráter do indivíduo.
Pois bem, voltando para o rumo das apresentações, minhas expectativas em ver pela primeira vez a um concerto do Besthöven eram bem grandes e quando Fofão e seus pupilos começaram os primeiros acordes, a emoção bateu e só quem gosta dessas porcarias é que pode explicar a intensidade que certas bandas causam, Besthöven é uma dessas(pra mim...), um filme veio na cabeça e lembrei-me de quando eu pirava no visu desse povo tosco, do nome macabro e da sonoridade e letras, sujas e bem periféricas, falando de uma realidade que eu via de perto. E posso dizer que o concerto dos bonitos superou minhas dúvidas com uma apresentação cortante, foi literalmente uma pesada no peito, tirando apenas alguns deslocados que acharam que o ambiente era espaço para cotoveladas e aberrações toscas. Foi uma verdadeira aula para os amantes do estilo, para os que não conheciam e para os desavisados de plantão, com a figura de Fofão bem à vontade no ambiente. Ficou realmente na memória, pena que muitos daqueles que valorizam mais o visual e dão muita importância para um status besta e descartável, não tenham visto os concertos desgraçados ocorridos naquele sábado, pois a bhesta estava à solta para quem demonstrasse interesse em absover ou incorporar da melhor(ou pior...) forma possível as blasfêmias invocadas pelos nobres podres, em formas de melodias rápidas, sujas e letras realistas. Foi um rolê bastante proveitoso e marcante. Beijos e até a próxima, amados(as).

2 comentários:

Diogo Rustoff disse...

Fiz aquele bandeirão do DFA mas nunca vi ele sendo usado.
Foi uma maldição faze-lo

Diogo Rustoff disse...

e no dia desse rock que estava longe de goiânia