4.9.13

Elefante Branco, Gringos e Leptospirose

Domingo era dia de rolêt jóvem em Goiânia. Tarde ensolarada, quente e com baixa umidade, fator que causa muita coriza, sangramento nas ventas, consumo excessivo de bebida (alcóolica ou não) e o afloramento de odores indesejáveis nas pessoas que não possuem o bonito hábito de se assearem de forma socialmente adequada. A minha pessoa havia passado no período matutino deste dia familiar na feira da marreta pra jogar carteado, depois em hipermercado francês para aproveitar as promoções e adquirir excelentes ampolas de antarctica original e ingredientes para o preparo de uma leve feijoada-acidente, e já digo, o esquema ficou finésse, e que a privada do wc da residência em que eu estava alojado relate a lapa de estrume que depositei no aposento do rei seboso. 
Com as tripas devidamente limpas, corpo hidratado com óleo de amêndoas paixão e elegantemente trajando a vestimenta da linda banda candanga Gulag, parti em rumo ao Centro Cultural Oscar Niemeyer, o famoséx elefante branco do estado que serve de palco para alguns eventos direcionado ao pessoal alternativo-fotogênico desta cidade. Cheguei na portaria, enfrentei uma fila básica que estava bem agilizada e demorei poucos minutos para adentrar no recinto. O esquema de entrada estava sendo o famigerado #qntovaleoshow, em que o público decide o quanto paga por aquele show, com os valores girando entre R$ 5 até R$ 100. Tendo em vista que já fui em alguns eventos com esse formato, pagando sempre o mínimo valor fixado, digo que como público consumidor este modelo é muito atrativo para tirar as pessoas de suas casas (inclusive eu!), mas sei que pela escassez de espaços e pela falta de apoio na cena underground da cidade, para a maioria dos organizadores este tipo de modelo torna-se quase que inviável..., mas a única coisa que eu sei é que tem muito mel de arapoá nesse jogo, pois o bagulho vira o enxame de gente descolada, negada que surge de todas as áreas de nossa capital.
Voltando ao relato, logo que adentrei ao monumento riscado pelo falecido Oscar, minha pseudo-velhice de rolêts bateu e aquela enorme aglomeração de joviais que não passavam
Coletivo Sui Generis - Foto: Renata Bandeira
de 17 anos causou algum incômodo em mim. Liguei o foda-se, lembrei que já passei por aquela fase (os jóvens sebosos presentes, alguns com cola e sabão no picumã pra modelar  o moicano, representam esta minha fase adolescente.) e tentei focar nos shows que iriam acontecer. E logo de cara peguei a apresentação do Coletivo Sui Generis, que conta com o Sedel e o Dj Gez no time, maloqueiros conhecidos da cena Hip Hop e Hardcore da cidade. O som ao vivo é pressão pra caralho, com o Sedel rimando muito (como sempre), instrumental bem na linha Body Count, Biohazard, Public Enemy, Pavilhão 9 e o Dj Gez apavorando nos riscos dos toca-discos. Com os vocais variando entre a rima e o gutural, a banda fez com que algumas dezenas de raparigos agitassem em toscas rodas desordenadas, que em alguns momentos tornavam-se agressivas. Gostei muito do que vi, som bem elaborado, papo reto sem firulas e o rapcore do Coletivo representou bem a gangueráge das ruas goianienses. De quebra ainda rolou uma session de freestyle, pra quem gosta de
Pista de skate - Foto: Valter Mustafé
batida, rap e improviso, o momento foi bem interessante e tirou bons aplausos do público presente. 

Fui bater um fio, conferir a galera que andava de skate na pista montada há alguns metros do palco e vi uma pá de molecada mandando uns flips e tal, alguns backside bigspin e até uns frontside 180° flip bem style, vi pouco, porém muito.  O calor era latente e a vontade de beber algumas latitas de cerveja era enorme, mas quando vi o tamanho da fila, o desejo de grávida logo passou e vou dizer, passam os anos, os eventos tornam-se maiores, mais estruturados aqui em Goiânia e a problemática da falta de um maior número de caixas para atender o público com mais rapidez e respeito continua. O mapa de palco e de
Mono Men (USA) - Foto: Valter Mustafé
espaço para o público era diferente dos outros que eu já tinha frequentado, confesso que fiquei com a sensação de aperto, além da falta de iluminação que ajudaria na orientação do pessoal e skatistas no período noturno do evento. Deixei este fato de lado e fui bater uns bons leros com as amizades ali presentes, observando de maneira um pouco longínqua os geriátricos americanos do Mono Men bailarem no palco. Confesso que não conhecia o som dos cabras e algumas cantigas me agradaram pela pegada mais rápida, já outras músicas nem tanto. Foi um show competente, talvez se eu conhecesse mais sobre a banda, a apresentação tivesse me empolgado mais. 

Logo em seguida entraram os paulistas do Maguerbes, com uma apresentação muito energética e com uma cabulosa presença de palco do vocalista, mistureba de post-hardcore, rimas, rockeragem de fundo de quintal, metal e mais alguma coisa que não consegui identificar no som dos bonitos. Vi pouco da apresentação, é verdade, pois estava com muita sede e procurava alguma alternativa pra molhar a garganta, algo que preservasse meu corpinho daquelas enormes filas.
Um papo agradável aqui, uma namorada nos merchans das bandas ali e eis que os preparativos para o show mais esperado por mim, naquela tarde/noite havia começado. Era o super power trio, mais conhecido como Leptospirose, aterrizando em solos goianos, após fazer uma cabulosa apresentação no Porón do Rock. A derradeira apresentação dos cabras nessas terras pequizeiras contara com a ilustre participación do figuraça Frango, concerto épico nos aconchegos do Martim Cererê. Desta vez minha expectativa girava em torno de ouvir cantigas novas do disco que está pra sair e, claro, ouvir crássicos do Aqua
Mad Max, Mula Poney e outras compilações. O baile dos leptos foi magnífico do começo ao
fim, comandado fervorosamente pelo mestre de cerimônia / edil / frontman / raparigo-
Leptospirose - Foto: Licor de Chorume
belo Quique Brown, com a ajuda dos ilustres Velhote e Serginho. Discurso exaltando o Mono Men, conexão do cabo da guitarra dando pau, virtuosismo em acordes catastroficamente curtos, humor sem ser ~vulgar~ e aula de rock doido pra jovial que chegou desavisado pro esquema. Já tem tempo que eu digo e reforço, o melhor show dessa esfera subterrânea do underground concentra-se nesse triêto-louco-paulista, o resto é só bafafá de Sônia Abrão pra ganhar ibope nas mídias tradicionais. Metaforicamente falando, foi o mijo do rato infectando as vias auditivas de seres sebosos que ali presenciaram o arsenal sonoro dos bacharéis.

Fiquei meio em transe ao final da apresentação, saldo positivo ao analisar todo o contexto do evento..., claro que poderia ter sido melhor, mas se os envolvidos estão há anos nessa e as falhas ainda continuam, o que resta é saber peneirar os rolêts, e este foi um que conseguiu ser coado por mim. Até a próxima!



Siga o blog no Instagram: http://instagram.com/licordechorume

Obs.: Se sua banda não foi citada nesta tosca resenha, não chore, talvez na próxima ocasião eu relate por aqui (ou não). Portanto, não fique procurando hemorroida em cu de virgem, faça a sua correria sem esperar nada em troca, beijo.

0 comentários: