15.8.12

DAS RUAS


As ruas de Goiânia, que outrora dividia sua arquitetura Art Déco com o expressivo verde das toscas mangubas de troncos ocos, nos dias atuais recorta parte de seu cenário com a arte subversiva, composta por uma trinca de cabras que fazem as pessoas entortarem as mentes com suas ações. Ao perambular pelas vias da cidade, você pode se deparar com um finése adesivo de “Cora Coralina Is Dead” e perceber que o sarcasmo daquele escrito vai além, e que, a lapada com vara de amora nos bons costumes e na preservação do provincianismo goiano é evidente. O delicioso lambe “Eu Sou O Marginal Botafogo”, escrito com letras de grapixo, faz você pensar que está à margem de várias situações que acontecem na cidade, mas que os verdadeiros marginais são aqueles infames viciados “filhos do césio”, esquecidos, que fazem das pontes da alameda seus nobres abrigos. E o que dizer daqueles raparigos sem classe e das donzelas sebosas que se enraizaram ao longo da Avenida Goiás? Talvez nem saibam, mas são eles uma das inúmeras representatividades que a instigante “Pessoas Soltas” causa em quem se depara com a mensagem. Pra quem enfrenta o caótico trânsito goianiense, quando se depara com uma Bastet imponente numa similar placa de trânsito pregada num ponto de ônibus tosco e mal conservado, questiona desde a imagem provocante da deusa até a real intenção do autor para aquele feito. O Buda, também simbolizando uma placa sinalizadora, pode passar a mensagem de calma, numa rotina de veículos cada vez mais violento, ou também a clara ideia, de que, se acredita-se naquilo que é visto, seguir as orientações é um mero detalhe. Na correria safada diária, ao se deparar com um jovem torcedor do ilustre Goiânia Esporte Clube, trajado com o uniforme do mesmo, de capacete majestoso e cores fortes, a sensação de nostalgia e admiração é imediata, lágrimas podem escorrer pela face sem cerimônia. Expressões destacadas de velhotes em armários telefônicos localizados em calçadas de esquinas do centro e moiçolas de feições joviais em paredes imundas, cortam o seu deprimente hábito de ir e vir, fazendo das intervenções uma bela democratização da arte.

Os autores dessas belezuras citadas, do it yourself de servente competente, são os diplomatas Oscar Fortunato, Marcelo Peralta e Diogo Rustoff, que compõe o belo time de quermesse da exposição DAS RUAS, que faz parte da programação do Festival Vaca Amarela 2012, o qual chega neste ano em sua 11ª edição. A exposição parte de fora para dentro, ocupando a Fábrica Cultura Coletiva, trazendo a expressão das ruas para as paredes de concreto. E você que já teve algum tipo de contato com essas intervenções, essa é uma ótima oportunidade de conhecer todo o círculo de criação e confecção, que se expande no processo de toda essa cabarezagem, bater um bom lero com os cabras e conhecer mais trabalhos desses artistas que mudaram a minha e a sua forma de pensar nos dias quentes desta linda cidade. DAS RUAS, a ocupação dos desabrigados em prol da construção da cultura subversiva goiana.

Genor (Blog Licor de Chorume)

Expo: Das Ruas
Artistas: Oscar Fortunato, Diogo Rustoff e Marcelo Peralta ( PlusGaleria.com )
Local: Fábrica de Cultura Coletiva (dentro da programação do 11º Festival Vaca Amarela)
Abertura: 21 de agosto de 2012, às 20h

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