24.11.15

finds memorável e só.

Este final de semana que morreu vai ficar na memória de algumas dezenas de pessoas. Pra quem perambula pelo subterrâneo sonoro e identifica-se com hardcore/punk, a importância da gaúcha Ornitorrincos e da paulistana Futuro dentro desse cenário torto é inquestionável. Pois bem, nesse finds as duas bandas desembarcaram pra fazer apresentações aqui em Goiânia e na vizinha Brasília, e a ansiedade de meses fez-se presente quando o pessoal chegou por aqui e bateu a tradicional larica no self service vegano Loving Hut. Entre a timidez e a fome, fui trocando ideia com quem eu já conhecia e apreciando a farofinha-maravilha que complementava o meu cardápio composto por lasanha, purê e saladex. Enchido o bucho, partimos para o Frutos do Brasil (aka Frutos do Cerrado) pra fazer o Villaverde tentar bater o recorde de consumo de picolé (da derradeira vez, o cabra consumiu 7 picolés!). Não sei ao certo, mas parece que o bom raparigo conseguiu matar 8 compridos gelados de sabores peculiares do cerrado (pequi, gabiroba e outros mais...), enquanto eu fiquei entre a graviola e o cupuaçu. 

De lá fomos para o local do crime, o famigerado Gas 07, com o comboio composto pela Gulag, Ornitorrincos, Futuro e mais algumas cabeças. Eu desconhecia, mas o local passara por uma reforma recente, deixando o esquema tava refinado e proporcionando mais comodidade para público e banda. Entre uns ajustes e outros, montagens de merchans e coisitas mais, aos poucos fui trocando ideia com o pessoal das bandas, enquanto o público chegava de maneira sorrateira. Altas histórias boas que o Pedrim da Bang Bang Babies contou sobre presepadas de rolê em outros estados, e enquanto íamos matando o tempo entre uma ampola e outra, a Ímpeto preparava o baile da terceira idade. Fiquei na portaria de lero com a Fernanda e com receio da chuva que estava programada pra chegar naquela tarde/noite de sábado. Bom, passada a apresentação que peguei de rabo de olho, era a vez da magnífica Bang Bang Babies, a minha favorita daqui já por algum tempo. Entrosada, uniformizada, performática e maravilhosamente bem tocada, peguei parte da apresentação que me deixou extasiado, com o Pedrim mexendo num Teremim de uma forma bem frita, me lembrando alguma referência psicodélica garageira dos anos 60. Apresentação que surpreendeu boa parte do público, e posso dizer que a Bang Bang Babies está atualmente entre as três melhores de nosso cenário underground pequizeiro. Em seguida fui pra portaria e ficara sabendo através da boca de terceiros como andava a "grandiosa" final da série c. O que eu queria mesmo era ver, depois de alguns anos, o baile da Gulag. Conheci a banda numa apresentação fervorosa no Capim Pub, e sempre que posso indico pra quem é chamegado no estilo acelerado do som. Desta vez o esquema foi muito mais intenso e chocante, com o Julio fazendo uma performance impressionante, abalando sistema nervoso e sanguíneo de quem presenciou o belo raparigo em ação. Finalizada a apresentação e anestesiado pelo que tinha acabado de presenciar, a chuva foi chegando aos poucos, e tivemos que mudar a logística da portaria as pressas. Revezando na cadeira do monitoramento, vi o começo e o final da apresentação da Ornitorrincos, e amizade, que trem doido foi aquilo. Villaverde me fez lembrar algum vídeo do Jello Biafra em começo de carreira. Tapas na própria cabeça, enrosco no cabo do microfone, corpinho rolando no carpete e mirabolagens mil que deixou meu queixo quase deslocado e a cervical com várias pontadas de dores. O esquema terminou emocionante com "É Só Uma Questão de Distância". Eu já estava mais que satisfeito com aquela tarde/noite impecável, mas ainda tinha a Futuro e eu estava com uma dívida pessoal, já que da vez passada perdi o show por conta de compromisso. Dessa vez fiquei muito na expectativa, e tudo compensou quando a banda começou os acordes. Já tinham me dito sobre a Mila no palco, e comprovei vendo um ótimo vocal, sem falar na sonoridade maravilhosa que a banda despeja em nossos ouvidos. Pedro apavorando nos riffs e deixando a minha pessoa bem feliz ao cantar "Rumo ao Fim" num dueto fabuloso com a Mila. Terminada a apresentação, eu pude ver a felicidade estampada no rosto dos que estavam presentes. Não tive nada do que reclamar, apenas que poderia ter sido eterno e ponto. Nos despedimos, o pessoal voltou pra Brasília e fui descansar pra ver se animava de pegar a estrada no dia seguinte.

No domingo, acordei sem ter a certeza de que iria para o rolê em Brasília, mas a Nati despertou revigorada e os 200 e poucos quilômetros iriam fazer valer dentro de algumas horas da tarde daquele domingo. Pausa clássica no Jerivá pra urinar, rangar e comprar saquinho de amendoim e balinhas de pingo de mel que fazem você soltar bufas intermináveis. Entre uma perdida nas ruas da capital que revelou Phillippe Seabra, Dado Villa-Lobos, Dinho Ouro Preto e Rodolfo Abrantes, chegamos ao local da festa e logo fomos recebidos por Villaverde, Pícaro, Daniel & Cia. Como foi bem em cima do horário, peguei o início exato da Abismo, banda nova de Brasília que conta com o Poney (Violator, Cidade Cemitério, Possuído Pelo Cão) no vocal. Um clima sombrio fez valer através de um doom com passagens pelo post punk que ecoou pelo subsolo do Bar do Bendito Benedito. Apesar de não ser meu tipo de som favorito, gostei do que vi e ainda consegui carregar 38% da bateria de meu celular durante o show. Saí pra refrescar, conhecer melhor o ambiente, e enquanto a Tirei Zero apresentava lá embaixo, fiquei matando algumas ampolas e vendo jogo no telão até ficar um pouco sem reflexo nas pernas e olhares. Conversas com Insekto, Bá, Xopô, Villaverde, Lucas e Guilherme me fizeram perceber que as cenas só mudam de endereço, que os prós e contras são iguais em quaisquer lugares. Já era hora da Futuro subir no pequeno palco do porãozinho em formato boate. Desci, me ajeitei próximo as banquinhas dos merchans e vi uma apresentação linda, um pouco mais curta que em Goiânia, mas não menos intensa. Deu pra notar que o público seguiu no ritmo até o fim. Voltei pro andar de cima, peguei mas alguma coisa de algum jogo na telona e logo desci pra ver a passagem de som da Ornitorrincos. "Louva-Deus" teve uma passagem quase que como um começo do baile e quando começou o porãozinho veio abaixo. Outra apresentação memorável daquele quarteto poderoso. Villaverde e seus comparsas são incríveis, e ter um grand final com "Nuvem Passageira", "O Homem Louva o Louva-Deus" e "Mictório Público", foi pra revigorar a alma e recarregar as energias pro início de semana que estava por vir. Terminado o baile, nos despedimos em tom de saudosismo, e voltamos pra encarar a estrada. 

O saldo final desse rolê-maravilha foi a incrível troca de experiências com pessoas distantes, a vivência do hardcore/punk em sua essência e sem estrelismos, com muita amizade, amor e sinceridade. A saudade fica e o breve sempre pode ser possível pela boa hospitalidade, e sempre penso que as vezes reclamamos da vida sem olhar em volta, pois aprender a valorizar as pessoas e as coisas faz dessa passagem algo menos doloroso. Agradeço de coração ao pessoal das bandas, Daniel, Pícaro, Júlio, Fernanda, Nati,  Chita e pessoal do bar, Gustavo e Isabela. Espero que a próxima não demore.

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