15.3.12

Hardcore carioca e um peixe fora d'água


Bicudo e o Goiânia Esporte Clube
 Era sexta, um pouco chuvosa para os dias quentes de Goiânia (de dias/semanas anteriores), era um leve frescor que viria alegrar meu corpo e de tantxs outrxs derrotadxs cidade à fora. Foi um bom presente dos céus (?), pois naquele fatidico dia, um pouco mais a noite estava eu me preparando para uma boa curtição de hardcore, pois finalmente minha tosca pessoa iria presenciar os cariocas do Zander, hardcore melódico aos moldes da primeira fase de Fresno (risos), Dance Of Days e toda aquela leva do melódico nacional noventista. Era a segunda vez que os cabras pisavam por aqui (na primeira oportunidade os lyndos bailaram no El Club, uma casa da noite hype aqui da capital, e diferente do que li em algum tópico do feice-buck, que insinuava um certo boicote ao local do evento realizado na época, não fui por preconceito/rejeição ou coisa do tipo, foi por pura escassez do papel de valor mesmo.) e antes de me deslocar para o local do crime, topei com o amigo Júlio (Tirei Zero, WxCxMx, PxPxCx, Homem Cola, Ímpeto e mais um monte de inquietações boas que o jovial se dispõe a fazer), papo dos mais legais (sempre é assim, incrível!) sobre cena, shows/música, perspectivas sobre esse mundo sanguessuga e pude ter a grata oportunidade de pegar em primeira mão, o zine do cabra (Paranóia e Cale a Boca #001), coisa fina os escritos desse jovem inquieto e rigoroso consigo mesmo. Recomendo para xs interessadxs que descolem um exemplar com o cabra (paranoiaecaleaboca@gmail.com), que dentre outras coisas, possui uma entrevista sensacional com o multi-anti-homem engajado Pedro Poney (Violator, ex-Ameaça Cigana, Cidade Cemitério, Coletivo Caga-Sangue Thrash e mais uma infinidade de coisas boas/produtivas que fazem desse nosso mundo algo melhor e menos entediante de se viver...). Pois bem, com a minha pausa temporária nas bebidas alcoólicas, acompanhei o lyndo papo somente com o saboroso líquido seboso de minha saliva e mais ou menos depois de 1 hora de diálogo/muitas risadas/ideias/utopias, desci a rua 10 do Universitário (assassinada pela prefeitura com a poda das lyndas e refrescantes árvores que ali habitavam e amenizavam as minhas constantes andanças por aquela rota) dos mais felizes.
Sedel e o papo reto do Chacina
Preparado para o show, parti com a minha linda companheira rumo ao Metropolis (local da prece). Sem mais delongas, fomos direto para o local da farra e logo adentramos para apreciar a noite que prometia (ao menos para mim!). Logo vi que o Chacina (banda de hardcore/rapcore daqui da capital) estava terminando de passar o som e entre imagens do filme " Os Fantasmas se Divertem" numa tv da casa em questão e um gole numa água mineral marota, a apresentação dos bonitos começava a topo o vapor. Som impecável, me impressionei desde o início para a qualidade da acústica da casa, pelo entrosamento da banda e principalmente pela pressão/peso do som dos caras. Sedel, Cabral, Bicudo e o batera que eu não sei o nome, estão finos demais (no que diz respeito à banda, sonoridade...), muito bem entrosados no palco, com uma pegada fora do comum. O foda era ver uma galera fria e bem longe de está no mesmo clima da apresentação anterior dos cabras, no aniversário da loja Hocus Pocus realizada no Old Studio. Cerveja cara, público meio disperso e o hardcore/rapcore papo reto do Chacina mandando ver naquela casa hype da cidade. Gostei demais da apresentação, posso dizer que os bacharéis representaram bem o lance GHC (Goiânia Hardcore) da parada.
Chacina em ação
Dei um rolê para ver a galera, refrescar o corpo um pouco na parte externa casa, pagar pau para os stencils do Rustoff e logo me senti como um peixe fora d'água. Vou (tentar) explicar. Público hype, poser, goiânia rock city e tudo que eu odeio em certos grupos se concentravam ali, a poucos metros de meu cansado corpo. Paciência..., fui para ver os shows, não para abraçar a causa.
Regin (Coerência)
Com mais algumas conversas legais acerca da vida corrida/sufocante (ali estava bem longe de discutir sobre cena ou algo do tipo), me preparei para ver a apresentação do Coerência (banda de hardcore melódico daqui da cidade). Banda boa, apresentação intensa e pude perceber que os goxtosos tem um certo público fiel, que vociferam as letras com muito sentimento, coisa de espremer tanto os órgãos, ao ponto de sair uma brechinha de merda mole pelo orifício em que o oxiúro ataca. Os rapazes estão impecáveis no palco e músicas como "For you" e "Óbvio" fazem a galera perder o juízo em rodas meio agressivas (tem gente que ainda acha que roda de hardcore é lugar para demonstrar a sua masculinidade tosca) e meio engraçadas. Só faço uma ressalva, senti falta de uma sequência entre uma música e outra, no mais, foi uma ótima apresentação, com a minha pessoa meio de lado, meio deslocada com aquele público composto basicamente por pessoas vindas da "ponte pra lá" (citação clara à música "Da ponte pra cá" do Racionais, ouça e entenda minha referência.) da cidade, "da 85 pra cima", como diria o Júlio (risos).
Coerência na pressão.
Satisfeito musicalmente, percebi que a organização do evento (Vacas Magras) deu uma atenção muito legal para as bandas locais, com tempo descente para passagem de som/apresentação, diferentemente de "Edimares"/Monstro/Tatto Rock Fest da vida que não respeitam certas bandas, que o diga WxCxMx e Demosonic.
Gabriel Zander (Zander)
Entre uma ida ao banheiro, uma apreciação superficial de materiais expostos e um asco enorme com um povo que acha que atitude é ter alargador tamanho bambolê, tatuagem de lágrima no rosto e com muitas caras e bocas para fotos que possivelmente estariam em site hype da Goiânia Poser City no dia subsequente, fui ver os preparos da banda carioca Zander. Atraso de um dos guitarristas por conta da sonoridade da guitarra (que para mim estava perfeita) que não lhe agradava, o show começou com a galera empolgada e os cabras passeando o set list pelos dois Ep's, o disco full da banda ("Em Construção", "Já Faz Algum Tempo" e "Brasa" respectivamente) e o recém split lançado, o "Chumbo", disco esse que para mim é normal e sem o alarde que tanto fizeram por aí. O show foi legal, o público quase quebrou alguns equipamentos da casa, o dono e alguns funcionários ficaram com cara de apreensivos, achei os caras com um patamar acima do hardcore que eu conheço e gosto, ou seja, os bonitos estão pingando no "underground pop", foi a impressão que ficou pra mim.
xKatirax (Coerência)
Concluindo, parabéns ao Vacas Magras pela organização, gostei da apresentação das bandas, achei que o valor do ingresso poderia ser mais barato (20 reais pesa e eu sei que algumas cabeças deixaram de ir por conta do valor do dízimo) e fiquei com a sensação de que aquele público artificial não merece o hardcore (ou vice-versa) e como diria o Criolo Doido (agora Criolo e tão aclamado/venerado pela galera indie/maculelêqueusaroupadacantãoepagadelóki) em uma cantiga sua: "é nóis aqui, cêis lá, pra ninguém sair na mão". Beyjos e até a próxima.


Fotos por : Nati Simão

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