9.4.14

Homem Elefante & Ameaça Cigana - Split 12'' (2012)




Demorei um bocado pra falar desta belezura em forma de bolacha 12 polegadas. Mas estou aqui, cada dia mais tosco e rapariguêro, não conseguindo abandonar os vícios da vida mundana e usufruindo deste podre espaço do subterrâneo sonoro nacional pra falar deste long play que chegaste em minhas grossas mãos (quem descarrega tijolo de gaizêra sabe do que estou falando), o split bolachón que reúne as lindas bandas Ameaça Cigana (DF) e Homem Elefante (RJ). 
O lado carioca do esquema conta com 7 cantigas que lembram a parte obscura/perdida e deliciosa do Bandeira Negra com alguma pitada do "Tied Down". Sonoridade densa do caralho que te deixa num climão de pseudo inverno com mormaço, agonia e desconforto das pessoas, da rotina que te leva a fugir da sanidade natural dos dias comuns (ouça "Police Verso" e sinta a falta de perspectiva com o seu circulo vicioso). Riffs contaminosos, raiva expelida-cantarolada que passa a sensação de que o abismo pode ser a distância da plataforma de embarque do terminal rodoviário com o asfalto marcado por manchas de óleo, pneus e fezes de pombo ("Day Of The Dead" retrata um pouco dessas alusões toscas que faço). "Ocean of Despair" é uma espécie de doomcore-garagecrust depressivamente boa de ouvir no escuro do quarto bebendo chá mate e lendo Leminski, tentando encontrar alguma alegria neste caos atual. O lado elefante é uma preciosidade e fecha com a cabulosa "Final Act". Garrafa de café seca, alergia de ácaros e absorção complicada das cantigas que me causou ataque de ansiedade e azia, deu a certeza que a banda é incrível em sua proposta de confundir os ouvidos com um hardcore que foge dos moldes, lado viciante para aqueles que adoram o não-convencional. Clandestino sonoro no topo, sem mais.


O lado cigano da bolacha conta com 10 musicólas, hardcore-oitentista-dançante em volume alto feito pra gente que não se localiza neste atual modus operandi de viver. Junte a fritação boa do começo do Bad Brains com o "Pick Your King" e mesclas da cultura flamenca, o resultado é o melhor lado b dos últimos tempos lançado nesta esfera subterrânea de som rápido. Destaque para "Ameaça Cigana", "Sua Loucura, Nossa Ciência", "Muito Obrigado", "Martir Sexista", "Mídia Condottieri" (que cantiga linda!), "Metamorfose Artificial" e  "Nada é Definitivo" (versón nacional para "Nothing Is Final" do Poison Idea). Nesta gravação a formação da quadrilha era a seguinte: Pícaro, Marcão, Lucca e Poney. Nos dias atuais Marcão e Poney pegaram na reta e deixaram os postos para Eduardo e Júlio. O lado "Explode Coração" é detentor de letras maravilhosas e talvez do melhor hardcore feito por essas bandas do miolo do centro deste país na atualidade, só perdendo para esta lindeza aqui (piada interna de reunião do quengal de fim de ano). O tal do Gogol Bordelo até pode ser bom, mas se aquela mistura de Hermes Aquino com Borat ouvir esta aceleração de bandolins e castanholas, o mesmo irá notar que a vida simples e o som sincero é feito com muito mais intensidade e sem holofotes. 


O disco é um lançamento conjunto dos selos Raw Recs, Läjä RexKarasu Killer, Rock Mutante e Give Praise Records, bolachas em quatro cores, arte bem louca de capa e encarte. Compre, troque, roube, lasque com o seu ordenado mensal, ostente em redes sociais de retrato, decepcione seus pais e continue dando respiro pra esse bom underground. 

Nota: Este blog não é a favor do incentivo do uso de tóxico, mas recomenda ouvir este redondo após uma boa session de Velho Barreiro e haxixe. Obrigada.

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