1.10.13

O Frio Finlandês no Setembro árido de Goiânia

Quinta-feira, 19 de setembro, trânsito caótico em Goiânia, calor da peste que causava um baita baque na molêra, muito gambé nas ruas, tiozinho cambaleando no sinaleiro pra pedir moedas que completasse o ordenado suficiente pra comprar uma dose e sustentasse o seu vício e uma enorme expectativa de minha pessoa em torno do concerto que seria realizado no período noturno. O rolêt já era aguardado por boa parte do underground lado b desta cidade, pois era dia de celebrar o nada e vangloriar a lendária banda Rattus, que pisaria em solos termais goianienses pela primeira vez, comemorando 35 anos de punk e resistência. Eu estava muito empolgado, coceira no foba a mil por hora, e mais cedo passei na Hocus Pocus pra adquirir de forma antecipada o desejado ingresso. Comprei logo dois, pois no caso de extravio de um eu teria outro garantido, malandragem metódica de cabra leso do juízo.
A trilha sonora até chegar nas imediações do evento foi comandada pelo lindo split Mahatma Gangue & The Renegades Of Punk, um dos registros preferidos de minha
amada-amante. Chegando no local do crime, que era um lavajato que já foi bar de mano e estabelecimento de ensino bancado pelo governo, fiquei na porta do recinto observando a movimentação das pessoas, ônibus, carros, cachorros e uns lambes pregados em paredes do outro lado da avenida. Como é de praxe, o evento havia sofrido um leve atraso, nada que comprometesse minha ansiedade, aliviada com boas goladas de água gelada e balinhas freegélis.
Os trabalhos da noite deu-se início com a local Death From Above e o público que ainda chegava aos poucos podia conferir o power-trio formado por Glauco Mingau, Danny Oncinha e Slake mandando a real com o seu d-beat maniac em uma das garagens. É sério, sempre achei as apresentações do D.F.A. muito bonitas, e desta vez não foi diferente, apresentação clássica do começo ao fim, clima punk oitentista total naquele espaço que dava de frente para a marginal botafogo, com alguns raparigos bailando na frente do
"palco" com bastante desconjuntura.
O calor ia aumentando, a galera chegando e os bons papos sobre hardcore ostentação (#risos) e estrelismo de subcelebridades do meio underground tomavam conta do bolinho em que eu estava inserido naquele momento. Alguns bebiam cerveja, outros catuaba, um ou outro cultuava uma boa safra de 1904 do vinho cantina das trevas, outros davam preferência para a vodca  e lá fora uma barraquinha que vendia espetinho de gato-engordado-com-rato-molhado-no-molho-de-pimenta-e-escaldado-na-farinha-de-mandioca salvava a negada que não era muito chegada nos rangos veganos, habituais nos rolêts punk/hardcore daqui.
Depois de uma rápida regulagem no som e instrumentos, os candangos do A.R.D., banda lendária da cena hardcore/punk do centro-oeste, davam o ar da graça naquela noite e o clima punk nostálgico ganhava de vez. Lembro aqui que um dos shows mais legais que vi no Old Studio (local em que realizava-se shows até num passado recente) foi do A.R.D., e depois de alguns anos a banda voltava a bailar em terras goianas. A apresentação comandada pelo vocalista Gilmar foi bem técnica, com um set que passeou desde o "Ataque As Hordas do Poder" até registros mais recentes como o split lançado
junto com a banda Phobia, e mostrou algumas características próprias da banda, que canta em outras línguas (alemão, espanhol...) e espalha a mensagem contra crimes ambientais e o abuso do capitalismo. Apresentação muito bem feita e que agradou aos presentes, pelo menos foi o que eu pude reparar.
E eis que a hora tão esperada pela almas sebosas presentes chegara. Era a vez do frio da Finlândia invadir o quase-clima-árido goianiense através da lenda punk RATTUS. Era a minha oportunidade de poder observar de perto o que eu perdi há alguns anos lá nas quebras do Gama/DF, e digo aqui nobres raparigos e elegantes moçoilas, que apresentação cabulosa. O baterista com seus 50 natais nas costas deu uma aula de versatilidade e malabarismo na batera, fato que deixou muitos, inclusive este que rascunha, com os cabelos do foba em riste. Era jovial bailando em compasso, doido do jipe amassando lata de cerveja na cabeça, nêgo tentando de forma vexatória cantarolar as cantigas em finlandês ~ fluente ~, entre tantos fatos engraçados e legais que rolou durante a
apresentação dos cabras oriundos do velho continente. Tinha até um hippie cigano que faz malabares nos sinaleiros da cidade com um rapariguinho no ombro, sacudindo, pulando e tirando vários sorrisos sinceros da criança. Depois de uma aula de punk/hardcore e muita nostagia, a banda fechou o show com o clássico "Rattus on Rautaa", fazendo a punkaiada véia presente ir ao delírio, com pulos toscos de emoção extravasada e tinha até alguns bacharéis rebolando os surrados corpos na brita com terra que havia no local.
Pra festa ficar completa e terminar num grandfinale, só faltou o garoto-seboso-molhado do lavajato, veja beeeeem, eu disse garoooooto, pois um escorrego meu na escrita e os fiscais da "cena" iriam rebolar com o cu na frente do pc. Infelizmente não pude ficar pra ver o som do Ressonância Mórfica, banda premiada da vez em ficar de fora da resenha, bom... mas como eu não tenho credencial de imprensa e pago pra entrar, a diversão, a troca de ideias e a noite quente que ficou na memória de algumas centenas de presentes é o que vale destacar. Obrigado mesmo aos envolvidos e que mais rocks clandestinos apareçam!


Obs.: Sem estrelismo e sem choramingo, este blog não tem compromisso com porra de "cena" nenhuma, escrevo o que tenho vontade, deixo de escrever o que acho que merece, não pago pau pra falsos libertários travestidos de patchs de bandas que não conhecem e se quiser cobrar é só chegar e soltar a letra, não sou obrigado a escrever pra agradar, e deixo uma dica simples: faça seu blog, seu zine e escreva sobre sua banda e seu clã. Mais do que ninguém, o D.I.Y. me ensinou que nunca devo esperar do outro, que o melhor é fazer e não reclamar. Beijos!

Genor


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