10.4.18

Cream Cracker, Corpse Paint e Enxofre





Na derradeira sexta, estava eu arquitetando as coordenadas da diversão daquela noite quando chegou a info de que um belo trio ternura estabelecidos em Brasília estariam por essas bandas de cá. Fiquei sabendo que os mesmos estavam sedentos por um bom rolê na cidade, então começou surgir as possibilidades de lugares pro chamego das próximas horas. Entre as opções jogadas na roda de conversa do whats, brotou o interessante evento “Satã, apareça!”. Até então confesso que não queria fazer algo que envolvesse shows, mas sim bares ou boates. Mas acabou que me convenceram de ir pro lugar, no caso era A Toca Coletivo, e já fui me preparando para as aventuras daquela noite.

Com temática black metal, o esquema trazia pela primeira vez por essas bandas de cá a carioca Velho, além de outras atrações que citarei ao longo do escrito. Antes disso, quando a sirene tocou e a liberdade cantou, parti em rumo ao Jarinão, no trajeto que estava bastante ensolarado, fui ouvindo um bom Jazzmatazz Volume 1. Parei no peg-pag pra comprar uma latinha, soltei 3 dinheiros numa ampolinha semi-gelada. Foi o prazo de chegar na boca da praça cívica pra bebida ficar em temperatura ambiente, o que me fez jogar o restante que sobrou no alumínio numa lixeira que tinha dois pombos mortos. Castigado pelo solzão e levemente aliviado pela cerveja, cheguei no Jarina e a clássica session de discos estava pra iniciar. Entre umRatos de Porão ao vivo (aê, sofrê), Probot (projeto cabuloso do Dave Grohl), The Clash e mais alguma coisa que agora falhou na memória, descemos no Jesus (bar localizado embaixo do prédio) e adquirimos alguns litrões, além de um salgadinho de pele de porco que estava bem chegado no tempero marinho.

Passadas algumas horas, e com a clara intenção de economizar dinheiro com Uber, partimos em trio num coletivo do péssimo transporte público desta cidade. Durante o trajeto entraram algumas mulheres com sotaque nortista e agitaram um pouco o ambiente vazio do ônibus. Em determinada hora do itinerário, uma delas retirou uma embalagem aberta de Cream Cracker e foi oferecendo para as demais, e eu que estava no meio do bolo fui questionado na aceitação de uma unidade da bolacha. Com um pouco de vergonha e com um pouco de surpresa recusei educadamente a oferta e no decorrer do trajeto até o destino final, com as conversas mais idiotas possíveis, essas mulheres não conseguiam segurar o riso e caíam na gaitada. Descemos nas imediações do local do crime e antes disso passamos no mercado pra comprar umas cervejas. Passando no caixa pra acertar o que seria consumido, notamos um casal passando uma compra um tanto peculiar, no caso era uma garrafa de Domus juntamente com um refrigerante Goianinho Zero. Depois disso fomos pro local da festa invertida e percebi que já tinha uma boa movimentação de gentes. Adentrando no recinto, topei com uma galera que eu não via já tinha um certo tempo, perambulei pelo espaço do lugar, que é bem amplo e confortável de certa forma. Comprei algumas fichas de cerveja, pisei no gramado, já que não era proibido, sentei na muretinha e comecei a observar o pessoal. Desde as épocas antigas dos rolês do DCE que eu não via tanta galera que curte blackmetal reunida. Conversas aqui, cumprimentos ali, roustos conhecidos e desconhecidos que depois tornaram conhecidos (rizos) e chegou a notícia de que já tinha rolado a apresentação do Heia. Queria ter visto, mas paciência.

Aproveitei o intervalinho entre as bandas pra namorar os materiais que estavam expostos, confesso que quase fiz loucura por conta do consumismo, tinha muita coisa legal, mas segurei a onda e voltei pro meu lugar de origem. Passado isso, adentrei na salinha pra apreciar a próxima banda, que no caso era aOrgiy of Flies, death metal de Formosa. Tudo muito oldschool, a banda representa e propaga o que há de melhor da primeira fase do estilo, misturando também a fase inicial do black metal em sua sonoridade. Apresentação muito técnica e pesada, era a primeira vez da banda aqui em Goiânia. Confesso que não conhecia o som e fiquei impressionado com a apresentação, com o vocal-berrante que ecoava pelas paredes da salinha e observei o público compenetrado no som do começo ao fim. Depois dessa avalanche voltei pro espaço externo, conversando com gentes de todos os tipos, cores e visuais. Em determinando momento em que eu estava num bolinho de resenha, rolou uma situação das mais inusitadas e um tanto hilária bem no momento em que um amigo foi pedir o isqueiro emprestado paraumas meninas que estavam do nosso lado. O esquema já virou piada interna dos nossos rolês. Passado isso, era a vez do Sociofobiasubir ao palco pra destilar o seu metalpunx mais que tradicional, já tinha algum tempo que eu não via a banda em ação e foi massa ver a força e a energia dos caras depois de tanto tempo tempo de banda, mais de 15 anos na ativa. As apresentações são sempre clássicas e com um ar de nostalgia, algo parecido que presencio quando vejo oDesastre tocando por aí.

Depois disso fui pra portaria ajudar no controle de entrada e saída de gentes, sempre um probleminha chato que rola nos eventos undergrounds, mas sempre consegue-se controlar e levar tudo na moral.Faltavam as duas principais bandas da noite pro baile ao avesso terminar, e a penúltima deu a machadada final e iniciou-se o rito na salinha. Adentrei e senti um clima pesado, era a Lápide vociferando o seu black metal, tocado mais arrastado e muito performático por parte do vocalista. Rostos pintados (Corpse Paint) que davam um efeito visual mais macabro, vestimentas rasgadas, dando um tom de podridão e o público meio que hipnotizado com todo o enredo. Confesso que teve uma hora que minha pressão deu uma caída, não sei se por conta do calor humano junto com a falta de alimentação adequada ou por conta da carga pesada que a apresentação da banda conseguia transmitir. Saí pra tomar um ar e comer um cachorro quente que me dissseram que era a fina flor pra larica. Fui lá, devorei um em poucos minutos, apoiado num pallet que localizava-se na parte gramada do local.

Devidamente alimentado e rebobinado para o consumo de mais algumas ampolas de cerveja, numa conversinha marota aceitei o convite de prolongar o rolê em algum bar da região. Empolgado e ao mesmo tempo com um sonão da massa, fui conferir a derradeira apresentação daquela noite, era a tão esperada Velho. Praticamente invertendo os integrantes da Lápide e trocando o vocalista, a banda começou o esquema bem alucinante, com o público delirando e cantarolando as cantigas de forma bem fanática. Também com os rostos desenhados, o som do Velho era algo mais acelerado, cru e direto. Com o bucho cheio e sacudindo o tronco espinhal de forma bem tosca, senti um certo embrulho no estômago, mas segurei as pontas e continuei firme prestigiando ali na lateralzinha do palco. Senti cheirinho de enxofre e uma impressão de que satanás ficou feliz (se é que pode citar este sentimento sobre o canhoto) com tudo que aconteceu naquela noite agradável. Esquema muito bem organizado, acho que era minha primeira vez na Toca o Coletivo e amay o espaço e a logística do lugar de shows e venda de cerveja/rango. Terminado os shows, um som ambiente ditou o ritmo do fim do ritual e a conversa firmou em prosseguir em outro lugar. Cansado do jeito que eu estava, só despedi do pessoal, peguei um Uber e aterrizei uns 20 minutos depois em minha nobre cama. Belo dia e ótimo rolê, agradeço aqui as bandas que pude ver e a organização, mais coisas do tipo tem que acontecer por aqui.

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