Começo do mês de dezembro, décimo terceiro gritando em minhas sebosas mãos, consegui burlar o sistema, sacrifiquei dois dias de prisão (aka trampo) e eis que chegava a hora de ficar alguns dias de rolê pela capital cabulosa, mais conhecida como São Paulo. Meu primeiro drama era enfrentar o avião. Não é segredo para aqueles que convivem com a minha pessoa, já me caguei de verdade em voô, desmaiei, já fui parar em pronto socorro e mais algumas bizarrices causadas pelo medo infame da altura. Dessa vez passei ileso e com direito à um sanduba "artesanal" esquentado no microondas que empurrei pro bucho.
Uma hora e pouco depois, pousei na loucura do aeroporto de Guarulhos e parti sentido mentrô Sumaré, pois nas imediações localizava-se o hostel que eu, minha espôuza e mais duas amizades doentias havia reservados semanas antes. A localização era tremenda, era como se a gente estivesse num Alphaville triplicado, a cada passo era uma thugz mansion mais louca que a outra. Vislumbrado com a imensidão da nobreza paulistana, conseguimos chegar no local de nossos aposentos, que de primeira ordem parecia tudo muito bonito, legal e interessante. Bom, deixamos nossas muambas, tóxicos e armas guardados em um dos quartos e começamos a nossa saga.
Primeiramente (#foratemer) paramos numa lanchonete/boteco pra molhar a palavra e bater um rango. Nessa primeira broca, sapequei um pêéfizão presença que deixo este cabra que judia da pena um tanto cambaleado pelo bom consumo de carboidrato, ferro e proteína. Voltando pro hostel (Up White Black), a penitência naquele ambiente começara em ritmo de festa, pois tive que esperar por 5 horas pelo meu quarto (depois de ter feito o check-in) e ficar na recepção dividindo o sofá com dois cães, um muito dócil e o outro era a besta-fera canina. Adentrando no cômodo, percebi que o mesmo era um estúdio (isto!) improvisado de dormitório. Tá, era o primeiro dia e não reclamei da situação, fui tomar banho e o toalete estava completamente imundo, tive que pisar em ovos pra adentrar naquele cabaré de cego. Tá, o estresse passou rápido, já que mais tarde iria ter um rolê free na Fatiado Discos com a discotecagem do grande mestre KL Jay. O lugar era muito foda, troquei alguma ideia com o mestrão, tietei, tirei foto, chapei, gastei granas num brecho em frente, bebi mais num boteco mais a frente, comi esfihas no Habib's perto da estadia e voltamos andando.
No dia seguinte, acordei com uma certa ansiedade e ressaca (claro!), pois era o dia da primeira apresentação do Descendents na cidade. Fui tomar café e não tinha, o pão era de forma e o acompanhamento era margarina e maionese. Não suportei aquela enganação e fui comer na rua, mais especificamente na Galeria do Rock. Mas antes, o mano do uber que era da zona leste perguntou se a gente conhecia a crackolândia, e pela resposta negativa ele sugeriu dar uma passada rápida por lá. Estação da Luz e imediações, o que eu vi foi a coisa mais horrorosa e absurda em minha vida e que me deixou horas pensante naquela situação lamentável. Era uma feira de zumbis, pra quem é de Goiânia, uma feira da marreta de nóias, tristeza e descaso com o ser humano. Ainda meio baqueado colei na galeria e fui primeiro na parte do Rap, ali visitei algumas loja e garimpei um B.T. Express e Con Funk Shon que me deixou um pouco mais alegre. Na parte de cima ranguei, comprei umas peitas e depois de um bom gasto de dinheiros, voltei pro hostel, pra dar um time e colar pro local do show.
Depois de uma boa descansada e perceber que a cama estava com um dos pés quebrado, fomos pro rolê de metrô. Tudo muito fácil e sem nenhum risco, tirando apenas a dor miserável em minhas batatas da perna. Bebemos num bar universitário do lado, com uns sanduíches cabulosos e cerveja litrão em temperatura ideal. Pegamos uma filinha rápida, topei com o Pedro da Futuro, entrei no ambiente e logo subi pra área do camarote. Estava um pouco cansado do dia agitado, não consegui sacar as bandas de abertura e enfrentei uma fila chata pra comprar algumas bebidas. O local estava cheio e com o público bastante agitado, com uma ansiedade óbvia que também me afetava. Entre uma figura e outra do underground paulistano perambulando em minha frente, os Descendentes começavam os primeiros acordes de uma noite mágica. Everything Sucks foi a porta de entrada de um dia muito emocionante, num encontro bem legal entre a velha e nova geração do hardcore. Como eu estava mais de longe, enxerguei o Milo bastante corcunda e comentei isso com as pessoas que estavam curtindo a apresentação ali ao meu lado. Logo após algumas cantigas, percebi que na verdade era uma bagzinha que ele usa pra beber algum líquido, água provavelmente, pra conseguir segurar a onda de uma aceleração frenética das músicas. Basicamente o esquema foi uma boa mescla entre o Everything Sucks, Milo Goes To College e o mais recente trabalho da banda, o Hypercaffium Spazzinate. Fique bastante feliz e um tanto empolgado em ver os velhotes num pique de dar muita inveja, e pensei comigo, se meu avanço de idade for nessa dignidade maravilhosa, estarei bem satisfeito. Terminada a apresentação, e ainda empolgado e muito cansado, a única coisa que me restou foi voltar e enfrentar o terror conhecido pela graça de hostel. Pelo menos dormi bem.
No dia seguinte o combinado era fazer um rolê mais artes, e a primeira rota foi ir no Pacaembu e visitar o museu do futebol. Fui à pé mesmo e conhecendo mais lugares legais. Chegando lá, fui logo tirando o ingresso pra entrar no museu, e tudo foi muito incrível, desde a entrada com o emblema de diversos clubes, até a área que simula o ambiente da torcida em um jogo. A cada novidade era um arrepio: a narração de um gol do garotinho ou o depoimento da Soninha, os registros fotográficos da época aristocrática, homenagem à Chapecoense e as televisões mostrando todas as copas. Tinha uma interação com o jogo do totó, aliás, este totó que levei uma lapada de 5 a 0 do meu japa-amigo Thiaguim. Depois de algumas horas e bem feliz com o que eu tinha visto, do lado de fora estava rolando um food truck da Seara grátis, com três opções de rango. Comemos e partimos para o metrô Sumaré, numa saga infernal e cansativa, que me tirou um pouco do sério e que estourou o joelho pôdi do amigo japa. Depois dessa penitência que achei desnecessária, fomos pra Bienal pra sacar a grandiosidade do bagulho. Entre um grafite cabuloso do cobra e uma procura frustrante por comida pelas imediações, tive que me render à uma enganação de pastel assado com recheio de cenoura. Caro, mal recheado e sem tempero. Fui para o que interessa e lá fiquei chocado com a variedade das expressões artísticas, desde a colagem digital até um templo maravilhoso de orixás. Três andares de muita coisa foda do mundo inteiro, com bastante referência à ancestralidade, mas ainda restrito pra uma elite seleta. Terminado isto, fomos num breve rolê à Augusta, já que a chuva impediu isto, tentamos dar um rolê na paulista e a chuva também impediu, chuva que também fez com que não pudéssemos à uma apresentação da Nação Zumbi, que dias depois fiquei sabendo que foi cancelado por conta dessa mesma chuva. Ficamos comendo num shopping ali da paulista e depois colamos na Praça Roosevelt. Lá procuramos alguns bares, e fomos direto para o Papo, Pinga e Petisco. Lugar bem decorado, com som ambientado no jazz e blues, e que dizem ter sido o local da primeira apresentação da Elis Regina. Boa conversa e boa bebida, passada algumas horas pagamos o que devia e ficamos ali na calçada do bar sacando o movimento de skatistas e toda a nata jovial daquele lugar. Já muito cansado, voltei para o hostel, descansei pra voltar pra minha terra central querida. O saldo disso tudo? experiência das melhores que quero voltar a fazer sem muitas delongas, não recomendo o hostel pra nenhuma inimizade e passei a valorizar mais o ritmo calmo dessa minha Goiânia. Obrigada à todxs envolvidxs.
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