
Dead Meat é uma
das ótimas novidades dentro do atual underground goianiense. Como surgiu a
ideia de formar a banda e concepção do nome?
Primeiramente gostaria
de agradecer pelo espaço e pelo interesse em realizar essa entrevista com o
Dead Meat. Gostaria de frisar que é de suma importância podermos contribuir com
o Licor de Chorume, um blog que tem bastante importância pra cultura underground.
O Dead Meat tem sua origem quando eu (Gustavo)
ainda fazia o ensino médio, tudo começou quando eu conheci o Claudio e o Kaio
Cordeiro, curtíamos metal e logo começamos a frequentar a cena metal de Goiânia
e começamos a ter vontade de produzir algum som. Entretanto, as ideias
demoraram a evoluir e concretizar, nós não sabíamos tocar nenhum instrumento e
nem como fazer música ou como estruturar uma banda, éramos apenas garotos que
sentiam vontade de tocar. Porém, eu e o Kaio estávamos cada vez mais
submersos no Thrash Metal old school e na realidade
underground de Goiânia, inclusive é importante salientar a importância de um
evento que acontece aqui na cidade do césio e que foi um divisor de águas nas
nossas vidas... O Trash Core Fast, pois foi a partir desse evento que tivemos
contato com bandas de hard core, punk, grind, crossover e com o D.I.Y. Sendo
assim, após entrar em contato com essa outra cena e principalmente
com o faça-você-mesmx, nós ficamos mais seguros de fazer um som, mesmo sem ter
muita noção musical, focamos muito mais na paixão pelo estilo e pela vontade de
fazer música ... o resto foi consequência. Bom, sobre o nome da banda... o nome
surgiu muito antes da banda realmente existir, eu e o Kaio queríamos um nome
que tivesse um significado para nós e que conseguisse
expressar posicionamentos políticos e de certa forma fosse agressivo, assim
como o som que queríamos fazer. Nesse sentido, após várias tentativas
frustradas de nomear o projeto nós chegamos nesse nome Dead Meat, pois para nós
o nome consegue simbolizar o vegetarianismo, libertação
animal, a admiração pelo Georg Romero e soava um bom nome pra uma
banda de Thrash.
Vocês fazem um
Thrash Metal bem na linha da velha escola, e por esses lados de cá o estilo
estava bem estagnado, com a banda reacendendo um lance legal que é sempre
surgir conjuntos de metal extremo na cidade. Essa espécie de revival foi intencional?
Fazer thrash old
school sempre foi a nossa proposta, eu particularmente nunca gostei de sons que
soam moderno, sendo assim, fazer um som calcado no old
school foi uma parada bem orgânica. Eu sempre senti falta de bandas
que fizessem thrash old school e infelizmente aqui na césiolândia a parada é
meio devagar, entretanto, haviam ótimas bandas aqui em Goiânia fazendo esse
tipo de som: Mortaldread, Eternal Devastation, Baba de Sheeva etc.
Espero que novas bandas de Thrash surjam e de outros estilos também, sejam old
school ou modernas, a cena deve ser um espaço plural onde a cooperação e a
livre expressão seja o principal objetivo.
Lançar um disco
dentro do underground do underground é como caminhar léguas com o tênis dois
números menores que o ideal, uma peregrinação lascada. Conte um pouco como
foi o processo de gravação do EP “Massacre & Progress”.
Produzir musica é algo
caro... começando pelo valor dos instrumentos, ensaios, transporte e todos os
gastos envolvidos. Mas acredito que o principal combustível para se produzir
algo é a paixão, é ela que deve ser o fio condutor de tudo, mesmo com todos os
obstáculos de produzir música o esquema é não desistir e dar um jeito de lançar
o material. O processo de gravação foi simplesmente foda, o Guga (Guitarra) nos
apresentou o Guilherme Aguiar (Spiritual Carnage/ Herectic)
figura importantíssima para a concretização do nosso projeto, foi ele
quem nos gravou, produziu e mixou o Ep. Desde o início ele
abraçou o nosso projeto, entendeu a nossa proposta e se dedicou bastante para
que tudo saísse da melhor maneira possível. A execução da gravação
teve algumas dificuldades, porém, talvez as maiores dificuldades tenham
sido para mim, pois o urbano (bateria) já havia gravado com o “Entre os Dentes”
e o “Livre?”, o Guga já teve mil bandas e possui uma vasta experiência, o Paulo
(Guitarra) é um viciado do caralho que passou a vida tomando toddynho, comendo
pão de queijo e tocando guitarra, o miserável gravou tudo em um take. Sendo
assim, eu era o com menor experiência musical, tudo era novidade e eu não tinha
muita noção de como fazer, apenas meti as caras e fiz. O Ep contém 5 músicas,
dessas apenas uma é da primeira formação da banda, esta foi a primeira música
que fizemos, então achamos de suma importância gravar a “Tuiuti” pra registrar
um momento onde éramos apenas Gustavo (Baixo/Vocal), Kaio (Guitarra)
e o Urbano (Bateria). As outras músicas do Ep são da formação que teve início
em agosto de 2014 com o Paulo, Urbano, Gustavo e o Guga.
O que vocês ouvem
atualmente em termos gerais e quais foram as influências para a concepção do
disco?
Cara, Sepultura acho
que é até óbvio falar. Mas gostamos muito de Kreator, Nuclear Assault, Judas
Priest, Black Sabbath, Violator, Farscape, D.R.I., muito hardcore, R.D.P.,
Varukers e muitas outras velharias motivam a gente a tocar e a criar.
Vai sair material
físico da bolachinha?
Sim, acredito que logo
sairá o a versão física do disco. Algumas coisas já foram conversadas com um
selo local e tudo já está sendo encaminhado. Entretanto, enquanto o disco não
sai na versão física, os interessados podem fazer o download no nosso bandcamp.
Este nosso
ambiente subversivo sempre passa por altos e baixos, e de uns tempos pra cá a
escassez de locais é uma realidade triste. Como vocês enxergam o atual cenário
pequizeiro?
A cidade do césio
possui diversas cenas musicais, com diversas bandas diferentes, diversas formas
de expressão. Assim sendo, o formato de produção é muito plural, por outro
lado, existe uma cena hardcore, punk, e crossover que sempre caminhou por conta
própria, produzindo cultura de uma forma independente calcado no D.I.Y. Para
esse tipo de produção as coisas podem ser realmente mais precárias, porém não
menos apaixonantes e menos divertidas, todavia, apesar das dificuldades de se
organizar show e produzir cultura, eu saliento a dificuldade que é de se fazer
algo em um pais lascado, vivemos em um pais onde a maioria é pobre e sobrevive
com um salário minimo, então fazemos as coisas como podemos, da nossa maneira.
Não há muitos locais para realizarmos os rolês, porém, há pessoas que bastante
apaixonadas no underground que sempre colaboram para que toda essa engrenagem
continue rodando.
“Tuiuti” foi a
primeira cantiga que a banda mostrou de forma oficial, e o título é uma clara
referência à Batalha do Tuiuti. Particularmente acho interessante citações
históricas/políticas nas letras, pois dá a abertura de possibilidades
para temas desconhecidos. Qual a mensagem que a banda deseja passar através dos
escritos e quais são as inspirações na hora de rasurar o papel almaço?
Acredito que o
conteúdo lírico de uma banda é de suma importância, é tão importante quanto a
melodia. Portanto, sempre preocupamos com qual seria a mensagem passada pela
banda, esse quesito sempre nos foi algo de reflexão. Assim sendo, a primeira
letra que fiz foi a da Tuiuti, como você mesmo citou, a letra faz referência a
batalha de Tuiuti, que foi um dos embates mais sangrentos de toda a história da
América do Sul. Tudo começou quando estava fazendo aula de América III na
faculdade e tive contato com trechos do depoimento de um soldado da infantaria,
onde ele relatava a batalha e os seus horrores. Contudo, eu queria produzir letras
que de certa forma se conectassem umas com as outras, a ideia não era produzir
algo conceitual, mas letras que dialogassem ... A inspiração pra musica
“Massacre” e o próprio titulo do álbum “Massacre And progress” vieram a partir
da leitura do livro Coração das Trevas do John Conrad, narra uma viagem do
marinheiro Marlow pela África. Nessa narrativa podemos perceber noções
eurocêntricas sobre os conceitos de civilização e de barbárie associadas às
idéias de raça comuns no século XIX. A noção de civilização, diretamente
associada à Europa e à cultura européia, é o ponto central circundado pela
trama. Portanto, o EP é uma crítica a ideologia do progresso, imperialismo e a
todos os discursos opressores que visam dominar e massacrar o outro, seja
humano ou não. E foi essa a teia que utilizamos para conectar todas as letras.
Já peguei um
exemplar de fanzine das mãos do Gustavo e gostei muito do conteúdo e da
produção. Como que anda o projeto e qual a importância da cultura zineira para
este direcionamento cada vez mais digital e dinâmico?
Cara, o zine foi algo
que sempre tive vontade de fazer, desde que conheci essa ferramenta eu pirei e
quis começar a produzir o meu ... acredito muito no D.I.Y e o
zine é um dos símbolos dessa ideologia. Nesse sentido, apesar do zine ter todo
esse peso simbólico para a música alternativa haviam poucos zines circulando
nos rolês, foi quando eu e o Kaio começamos a querer fazer o nosso próprio
zine, primeiramente por sentir vontade e necessidade de nos expressar e comunicar,
e pela carência de materiais circulando, decidimos colocar a mão na massa e
fazer o zine do nosso jeito. O Cidade tóxica não possui muitas regras de
produções não, geralmente a nova edição sai quando estou inquieto com algo e
quando consigo vencer a preguiça que tenta dominar o meu ser, porém, o meu
desejo é que eu consiga lançar algumas edições esse ano.
A Dead Meat é
composta basicamente por pessoas que são de uma geração mais recente da cena
underground de Goiânia, e um dos integrantes é o Guga Valente, cabra dinossauro
do submundo desse lado de cá. Como foi o ritual para a entrada do diplomata das
cordas finas para a banda e rola alguma troca de experiência entre a velha e a
nova escola?
Bicho, o Guga era o
que precisávamos na banda... Depois da saída do Kaio e da entrada do Paulinho,
nós decidimos que queríamos chamar mais um guitarrista pra compor o time. Mas
não foi nada fácil, foi muito complicado encontrar alguém disposto a tocar, que
amasse thrash 80’s e que fosse um cara politizado e estivesse com muita vontade
de fazer barulho e incomodar esse mundo de merda. Além do mais precisávamos de
um Bear ( gordinho peludo) para somar na parada... E foi através do Bacural que
o Guga veio ao carne morta. Bicho, tenho um respeito imenso por esse cara, um
cara que toca bem, cheio de ideias incríveis, disposto a dar o sangue pela
banda, com uma bagagem de conhecimento e experiência musical e de vida que era
o que faltava para nós.
Pra finalizar,
valeu por aceitar essa tosca entrevista, agradeço também pelo papo que levamos
certa vez no Estúdio Sonoro, ali foi fundamental pra que eu seguisse com essa
imundice de blog. O EP tá a fina flor do Thrash 80’s e o Espaço fica pra vocês vomitarem o que quiserem. Obrigado e até qualquer momento.
Nós é que temos que
agradecer por este incrível espaço, certamente um dos melhores blogs
underground do país. Que a cena de Goiânia continue se fortalecendo e que os
espaços culturais possam voltar a emergir. Reforçando, quem quiser ouvir nosso
som, dá uma olhada no Youtube ou no Bandcamp. Baixe, pirateie, divulgue nosso
som! E curta Thrash!!
Página da banda: Dead Meat
Bandcamp: deadmeatthrash.bandcamp.com
Página da banda: Dead Meat
Bandcamp: deadmeatthrash.bandcamp.com
Ouça e baixe o EP "Massacre & Progress" aqui:
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