Entón negadis, voltando ao esquema de entrevistas safadas que este blog solta esporadicamente com celebridades anônimas deste submundo underground, a bola (cof, cof) da vez é um cabra da nova geração da dita cena goianiense. Victor Caetano é a graça do jovial, vocalista da banda Entre Os Dentes e guitarrista da banda Livre?. O papo se desenvolveu e o bonito rapaz falou de espaços de shows, veganismo, família, estudos e vagabundagens mil. O cambojano aqui ficou muito satisfeito e grato pela entrevista, confira e tire suas conclusões. Bejos!
Ente Os Dentes no TrashCore Fast 7 |
1 - De primeira, como e/ou quando você chegou até esse tortuoso submundo do punk/hardcore?
Então, vei, eu queria começar agradecendo pelo espaço e pela resistência de vocês do Licor de Chorume (que é um dos motivos de eu ter me envolvido nesse submundo). Bom, eu não tinha ligação nenhuma nem com rock nem com nada até por volta dos meus 16/17 anos quando eu passei a conhecer algumas bandas dos anos 80 pela internet mesmo, e por um interesse próprio, já que nenhum amigo meu conhecia nada que tivesse a ver com isso. A partir do momento que eu conheci o Dead Kennedys eu tive vontade de formar uma banda e, através de uma amiga minha, comecei a freqüentar alguns ‘roques’ (ainda não no old ou no capim) e conheci algumas pessoas que andavam de skate e que compartilhavam de alguns gostos meus. Posso dizer que foi quando o Urbano - baterista - entrou na Entre Os dentes que eu comecei, junto com ele, a colar nos rolês em que constavam as bandas de Goiânia com uma levada rápida (que a gente também conheceu, primeiramente, pela internet) como WCM, Baba de Sheeva, mais tarde conhecemos o Corja, Ímpeto, etc... Basicamente, a gente teve contato com essa cultura, primordialmente, pela internet e, depois de colar bastante na pastelaria, no Old e no Capim a gente foi percebendo que já havia uma ‘cena’ aqui e que poderíamos ‘fazer parte’ ativamente dela. E ainda posso adicionar que o desande mesmo foi o Thrashcore de 2010 que teve o DER, Violator, Tirei Zero, Baba de Sheeva, Massacre Bestial... ali deu uma vontade filha da puta de tocar por aí mesmo...
2 - Esse esquema de acompanhar eventos toscos, ouvir musicas rápidas, ter amizades que fogem do estereótipo montado pela sociedade sempre causam conflitos de ordem familiar, com você rolou também ou foi mais ameno?
Com certeza rolou... não foi ameno, mas as tretas nunca chegaram no extremo de me expulsarem de casa ou algo parecido. Acho que essa questão da família tem muito a ver com a falta de diálogo, ou seja, se eu soubesse conversar melhor (coisa que geralmente só vem com mais maturidade) meus pais poderiam ter entendido melhor, como eles já entendem um pouco melhor hoje em dia. Tem a ver também com a preocupação (que poderia ser amenizada com mais diálogo) que os pais têm por causa do que vêem nos jornais e tal... o senso comum bate muito nessa tecla da aparência ser suficiente pra julgar alguém e a desinformação que rola a respeito deixa as coisas complicadas. Fumar um baseado, por exemplo, pra quem não mexe com drogas é o mesmo que fumar pedra ou sei lá o quê... E o rock é mal visto demais e ta sempre aparece ligado, na mídia, com drogas que é uma das coisas que mais preocupam os pais. A mídia não está interessada em mostrar o lado bom de grupos minoritários. Pouca informação e falta de diálogo geram esses conflitos, na minha opinião. (Apesar de que tem coisa que nem com conversa resolve...).
3 - O Entre Os Dentes pintou como um dos lances mais legais nesta cena local, mesclando o hardcore oldschool com o crossover. Tive a oportunidade de ouvir os sons novos da banda e o esquema evoluiu muito. Quais são suas atribuições para esta grata e notável melhora da banda?
Obrigado pelo ‘um dos lances mais legais’, Genor! Essa evolução tem apenas uma atribuição: ensaiar pra caralho no próprio lugar de ensaio. A gente já teve, em 2012, dois lugares diferentes pra ensaiar só a gente e isso foi totalmente determinante pra evolução de todxs da banda. Primeiro a gente ensaiava lá na casa do Ventana (guitarrista), mas aí foi cancelado o esquema do estúdio por excesso de barulho e bagunça. Aí ficamos uns meses ensaiando pagando estúdio até conseguir nosso segundo ‘estúdio próprias pernas’ na casa da Aurora (baixista) e do Urbano (baterista). Lá aconteceu muita evolução e a gente discutia melhor as músicas, podia ficar o tempo que quisesse e tinha ensaio duas vezes por semana. O Urbano fez uma correria muito foda de isolar acusticamente com madeira e colchão, mas mesmo assim o estúdio durou no máximo uns 2 nem 3 meses porque o vizinho reclamou e ele estava com criança pequena em casa... aí fudeu... Mas é isso aí, nossa conclusão é que o DIY é o que faz uma banda evoluir. Fazer você mesmo, gostar de fazer, e ensaiar muito.
Ente Os Dentes no TrashCore Fast 7 |
4 - Já no Livre?, o grind/crust entra rasgando nos poros de quem ouve o esquema. De onde surgiu a ideia de montar esta linda banda com este bonito tipo de som?
O Livre? foi assim: o Urbano queria ter uma banda de grind, aí ele chamou o Gilcélio e o Alysson. Eles estavam sem guitarrista e eu me convidei pra ir no primeiro ensaio até eles acharem um que presta. Mas aí a gente foi entrosando e eu fiquei. A intenção é usar bastante o blast beat e falar de milhares de assuntos diferentes, principalmente questionando a liberdade, seus limites, suas contradições... E é isso aí! O nosso querido amigo Gilcélio saiu mas já temos substitutxs.
5 - Nome de banda é algo que sempre me deixa com uma coceira no foba, pra saber como que chegou até aquela graça. Livre? e Entre Os Dentes, quais são as histórias destes nomes?
Livre? fui eu que dei idéia e os caras da banda curtiram. A gente tava viajando em altos nomes relacionados à liberdade e esse pareceu o nome mais amplo, porque a liberdade pode ser questionada das mais diversas formas e vista sob diversos aspectos, assim a gente fica mais ‘livre’ (risos) pra compor tanto letra quanto música, sem necessitar de fazer restrições. Já o Entre Os dentes foi coisa de maconheiro jovem. A gente tinha uns 17 anos, o Urbano viu uma amiga nossa fumando um cigarro e a gente tava pensando fazia um tempo em qual seria o nome da banda, aí ela fumou o cigarro e eu percebi que ela tragava puxando a fumaça entre os dentes e eu falei isso pra ela, aí ele achou o nome massa e disse: “caralho, vei, entre os dentes, é isso”, e não tinha sentido nenhum mesmo, sentido a gente só foi arranjar depois. O sentido que eu vejo nesse nome hoje em dia é de raiva, ódio, ou então algo que incomoda, pode ser uma pá de coisa...
6 - E a demo física do Entre Os Dentes, sai esse ano? Como anda o processo de confecção da bolacha?
A nossa demo física deve sair do meio pro final do ano, a gente tá juntando dinheiro pra lançar em parceria com a TBonTB e com a Evil Mosh Crew. Provavelmente vai ser algo mais que uma demo, vai ter bastante arte gráfica, no mínimo 14 músicas, vai ficar bem legal na minha opinião. A capa e o silk do cdzinho já estão prontos e foram feitos pelo Todd, já a parte interna de encarte ta por conta do Ventana (que além de guitarrista é artista plástico- mininu bão, sô). Mas é isso aí... Só falta, pra gente lançar, grana e o resto da arte estar pronta. Ah, e talvez a gente reagrave uma música e acrescente outras. Tá bem encaminhado... de resto, só grana mesmo...
7 - Você vai dividir palco com uma importante banda do cenário, que é o Teu Pai Já Sabe? (PR), com o Entre Os Dentes. Rola ansiedade ou isso fica mais para os esquemas do mainstream?
Ansiedade eu sinto sempre, tendo ou não tendo role... (haha) mas com certeza aumenta a ansiedade, mesmo porque são momentos que eu espero mesmo que eu não fosse tocar... Acho que não é uma questão de mainstream ou underground, ansiedade rola mesmo, só não é uma ansiedade de querer agradar os outros. É mais uma ansiedade de ver tal banda ao vivo, de perto, de trocar idéia com gente que não se tem contato sempre, esse tipo de coisa... De tocar eu sinto mais ansiedade no dia mesmo... Mas, resumindo, to louco pra ver o Test, que vai ser na rua, e sei que depois que rolar vou ficar na fissura do Teu Pai Já Sabe? também.
Obs.: Essa entrevista foi feita antes do show do Test, e o esquema foi lindão, confira aqui.
8 - Agora falando de vegetarianismo. Você sempre cativou por este estilo de vida? Esta filosofia é levada para as bandas em forma de letras e/ou atitudes ou é algo mais pessoal?
Vegetarianismo eu acho que é algo pessoal. Eu não me considero vegetariano porque eu como resto de comida quando estou na rua, bêbado/doido ou não. Não me importo, nesses casos de Mclixo, de comer o que tiver. Odeio desperdício de comida e as pessoas fazem isso sem dó nenhuma por aí... A indústria da carne e a nossa cultura ajudam muito pra que esse desperdício aconteça. A gente, no Entre Os Dentes, tem só uma música que fala sobre a relação violenta, sádica e indiferente que o ser humano (em geral) tem em relação aos animais, mas não fala de vegetarianismo. A música chama “Tourada, Rodeio, Briga de Galo, etc... Cultura, Burrice, Sadismo, Crueldade ou tudo junto?“ e a letra dela é esse nome grandão mesmo, hehe. Essa letra começa como um questionamento em relação a quem diz que eventos como touradas, rodeio, etc... são cultura e por isso não devem acabar. Aí termina com uma resposta. Na minha opinião, uma coisa não impede a outra. Crueldade/sadismo/idiotice estão inseridos em uma cultura que se modifica no espaço e no tempo, e sendo assim, podemos mudar, rejeitar a cultura imposta e ‘evoluir’. É uma questão que não tem só a ver com esse ‘entretenimento’ que é torturar animais, mas em todos os aspectos que nos são impostos diariamente...
9 - Nos estudos você passou pelo curso de Ciência Sociais e agora está na Psicologia. Esta experiência universitária ajuda na hora de compor letras ou é tudo lorota, as influências surgem mesmo é do cotidiano diário?
As letras sempre estão influenciadas por tudo que eu vivo, então dá pra dizer que elas estão ligadas à minha experiência acadêmica. Porém, a maioria das letras que eu já fiz pro ExOxDx eu fiz no ensino médio, então a coisa tava mais ligada com a visão de mundo que eu tinha enquanto estudava pra fazer aquela merda chamada vestibular... Mas é isso aí, uma mistura de tudo... Sempre há algo que se aprende, seja na escola das ruas ou na parada institucionalizada, que vão te influenciar a criar algo... Querendo ou não a coisa é por aí mesmo...
Ente Os Dentes no TrashCore Fast 7 |
10 - Qual é a sensação de passar de moshêro chapado à adestrador de rodas satânicas? Digo isto pois você tocou na última edição do ThrashCore Fast, um dos eventos mais importantes do Centro-Oeste. Dizem as boas línguas, que quem baila nesta nobre festa, sai mais tortx que tronco de jatobá, procede tal falácia?
Hahahaha. O thrashcore é muito foda e foi um sonho realizado tocar nesse role. Eu sou a prova viva de nêgo sai torto desse baile porque já fui em três e grande parte da culpa de eu ser torto é o tal do thrashcore, vice? hahaha e digo torto em todos os sentidos, seja de torto em relação ao resto desse mundo cão ou torto da coluna mesmo...
11 - Os lugares aqui em Goiânia pra quem se aventura no hardcore/punk são bem escassos. Você tem vontade de bailar com alguma de suas bandas em algum local dito “rocker” aqui da cidade?
Não tenho tanta vontade de tocar nesses picos quanto tenho de tocar na rua... hahaha. Mas, se rolar convite ou um amigo animar de organizar algum esquema pode rolar um role nos picos rockers da cidade... kkkkk Nossa intenção é tocar em qualquer lugar. Mas, o foda mesmo é ficar sempre nos mesmo lugares chamados Old studio e Capim Pub que são os únicos que abrem as portas pra gente (que agora estão ‘perigando’ fechar fudidamente, sendo que o Old já está tampado pra rolar eventos) e se conformar com isso não fazendo nada pra acontecerem coisas diferenciadas. Em 2013 a gente quer fazer pelo menos um role massa que nem foi na casa do Gilcélio ano passado, de preferência com uma aparelhagem melhor. Acho que vale bem mais do que precisar esperar esse povo de casas de evento chamar a gente, ou que seja aceitarem a gente tocar no estabelecimento deles. Resumindo, se não rolar algum pico a gente tenta e faz rolar. Quem sempre faz algo está por aí resistindo: Segundo, Natal, Júlio, Pedrin, Richard... haha <3 i="">3>
12 - Bom, é isso Victor, valeu por aceitar o convite e continue a esgoelar com seu vocal elegante. Forte abraço.
Opa, Genor, valeu demais! Gosto demais do blog e tamo junto! Abraço e DIY ao máximo.
Fotos por: Alex Almeida Katira: https://www.facebook.com/alexalmeidafotografo
Ouça a demo do Entre Os Dentes aqui:
1 comentários:
aí, o higiene mental é o maior culpado pela existência da entre os dentes e por eu ter sido aplicado no roque. Esqueci de falar disso. http://www.facebook.com/higienemental
é nois brodinhos ...
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