As ruas de Goiânia, que outrora dividia sua arquitetura Art Déco
com o expressivo verde das toscas mangubas de troncos ocos, nos dias
atuais recorta parte de seu cenário com a arte subversiva, composta por
uma trinca de cabras que fazem as pessoas entortarem as mentes com suas
ações. Ao perambular pelas vias da cidade, você pode se deparar com um finése
adesivo de “Cora Coralina Is Dead” e perceber que o sarcasmo daquele
escrito vai além, e que, a lapada com vara de amora nos bons costumes e
na preservação do provincianismo goiano é evidente. O delicioso lambe
“Eu Sou O Marginal Botafogo”, escrito com letras de grapixo, faz você
pensar que está à margem de várias situações que acontecem na cidade,
mas que os verdadeiros marginais são aqueles infames viciados “filhos do
césio”, esquecidos, que fazem das pontes da alameda seus nobres
abrigos. E o que dizer daqueles raparigos sem classe e das donzelas
sebosas que se enraizaram ao longo da Avenida Goiás? Talvez nem saibam,
mas são eles uma das inúmeras representatividades que a instigante
“Pessoas Soltas” causa em quem se depara com a mensagem. Pra quem
enfrenta o caótico trânsito goianiense, quando se depara com uma Bastet
imponente numa similar placa de trânsito pregada num ponto de ônibus
tosco e mal conservado, questiona desde a imagem provocante da deusa até
a real intenção do autor para aquele feito. O Buda, também simbolizando
uma placa sinalizadora, pode passar a mensagem de calma, numa rotina de
veículos cada vez mais violento, ou também a clara ideia, de que, se
acredita-se naquilo que é visto, seguir as orientações é um mero
detalhe. Na correria safada diária, ao se deparar com um jovem torcedor
do ilustre Goiânia Esporte Clube, trajado com o uniforme do mesmo, de
capacete majestoso e cores fortes, a sensação de nostalgia e admiração é
imediata, lágrimas podem escorrer pela face sem cerimônia. Expressões
destacadas de velhotes em armários telefônicos localizados em calçadas
de esquinas do centro e moiçolas de feições joviais em paredes imundas,
cortam o seu deprimente hábito de ir e vir, fazendo das intervenções uma
bela democratização da arte.
Os autores dessas belezuras citadas, do it yourself de
servente competente, são os diplomatas Oscar Fortunato, Marcelo Peralta e
Diogo Rustoff, que compõe o belo time de quermesse da exposição DAS
RUAS, que faz parte da programação do Festival Vaca Amarela 2012, o qual
chega neste ano em sua 11ª edição. A exposição parte de fora para
dentro, ocupando a Fábrica Cultura Coletiva, trazendo a expressão das
ruas para as paredes de concreto. E você que já teve algum tipo de
contato com essas intervenções, essa é uma ótima oportunidade de
conhecer todo o círculo de criação e confecção, que se expande no
processo de toda essa cabarezagem, bater um bom lero com os
cabras e conhecer mais trabalhos desses artistas que mudaram a minha e a
sua forma de pensar nos dias quentes desta linda cidade. DAS RUAS, a
ocupação dos desabrigados em prol da construção da cultura subversiva
goiana.
Texto curatorial por Genor Sales
Expo: Das Ruas
Artistas: Oscar Fortunato, Diogo Rustoff e Marcelo Peralta ( PlusGaleria.com )
Local: Fábrica de Cultura Coletiva (dentro da programação do 11º Festival Vaca Amarela)
Abertura: 21 de agosto de 2012, às 20h
Artistas: Oscar Fortunato, Diogo Rustoff e Marcelo Peralta ( PlusGaleria.com )
Local: Fábrica de Cultura Coletiva (dentro da programação do 11º Festival Vaca Amarela)
Abertura: 21 de agosto de 2012, às 20h
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